Às vezes o dia dá-nos coisas assim. No Freeport, como não, a 5 euros, um livro que sempre tive vontade de (re)ler mas que estava como uma pedra no sapato: cheguei a pensar nele seriamente para as Quasi, mas as 400 páginas de tradução e o medo que o sucesso lá de fora se não repetisse cá dentro, fizeram-me não apresentar nenhuma proposta para a compra dos direitos. A isto, claro, somava-se o facto de eu saber que não tinha área comercial em condições para poder potenciar o livro.
Quando a Marta Ramires o levou para a Casa das Letras fiquei expectante. E com um sentimento muito agridoce de o ver chegar às quatro edições, aos tops de vendas de todas as livrarias. O livro merecia, claro. Mas não poderia ter sido eu a colocá-lo lá? Não, não poderia. A Marta além da boa editora que era - e é - tinha uma máquina comercial imparável. E só assim era possível possibilitar ao livro a exposição que fez dele esse sucesso.
Por isso mesmo - um misto de inveja e de orgulho - nunca comprei a edição portuguesa. Tinha lido grandes partes da inglesa, percebido do interesse do livro. Mas depois nunca mais lhe peguei. A inveja deve ter falado mais alto.
Comprei-o hoje, que a vida mudou tanto que era para ser mesmo assim. Ainda para mais a 5 euros no Freeport (4,90 se não estou em erro). E já (re)comecei a ler. Devo acabar breve, breve.
Uma última palavra para o título: Dawkins explica muito bem o termo delusion no prefácio. Em português, o tradutor até coloca delusão. Dizendo Dawkins o que diz de Stephen Hawking (que teria aceite o conselho de não colocar fórmulas, que cada fórmula faria as vendas cairem para metade, cito de cor), não acredito que ficasse muito satisfeito com a tradução para A Desilusão de Deus em vez de A Delusão de Deus ou, no limite, A Ilusão de Deus. Mas talvez a Marta tenha razão: o sucesso do livro também pode ter estado numa tradução do título mais fácil para o leitor. Embora eu talvez tivesse optado pelo A Ilusão de Deus...