Há três anos, durante as férias, traduzi o Funeral Blues, do Auden, e coloquei-o na Rua da Castela. Passados três anos, e depois de tentar escolher a melhor palavra possível para cada verso, ficou assim. Esta é a minha leitura do poema, bem mais do que uma tradução, como se percebe.
Canção Triste
[Auden]
Parem os relógios, desliguem o telefone,
amordacem o cão com um osso enorme.
Calem os pianos e com um pequeno tambor
tragam o caixão, deixem chorar a dor.
Que os aviões se lamentem em círculos pelo céu
rabiscando nas nuvens: Ela Morreu.
Enlutem a nação no pescoço branco das pombas,
deixem os polícias usar as mais negras luvas.
Ela era o meu Norte, meu Sul, meu Este e Oeste,
a minha féria e o meu Domingo de descanso.
O meu dia, a minha noite, a minha fala e canção;
pensei que o amor durava para sempre – não.
As estrelas não são queridas, já: desliguem-nas.
Arquivem a lua e retirem o sol.
Despejem o mar e varram a terra,
porque nada, agora, poderá vir a ser um dia melhor.