Dizem que chove sempre a norte do cabo
Carvoeiro, a neve só nas terras altas. Moro
ao nível do mar, e no entanto a espuma é
longe demais para molhar os pés no meio
do sargaço. Nunca neva nas terras mais baixas.
E chove sempre no Norte, onde espalho notícias
de um sol ainda mais distante. Tenho quase
quarenta anos e nenhuma luz. Não há quem me
brilhe ou faça brilhar, visto roupas escuras até
no verão. Limito-me a arrefecer os raios na minha
pele sempre fria. Aquecer é coisa que deixo para
as mulheres modernas que habitam à vez o meu T1.
Basta-me viver, se soubesse para onde, aí sim, fugia.