Leio no facebook do João que o António Barreto vai ao A Torto e a Direito no Sábado. Leio no Da Literatura que alguém falou no António Barreto para Primeiro-Ministro de um governo de iniciativa presidencial até ao final da legislatura. Leio que foi o Pedro Santana Lopes. Pronto, é assim que se queimam as pessoas. Uma das pessoas que mais admiro neste país, a ser recomendado pelo Santana Lopes. O António Barreto não merecia tal coisa.
Na conversa, consegui envergonhar-me na mesma proporção que ela foi maravilhosa. Por isso, tudo correu pelo melhor. Um beijinho para a Adriana, sempre hiperquanticamente fantástica.
No Expresso desta semana, uma entrevista a José Luís Simões, administrador da maior empresa de transportes portuguesa. Notem estas respostas:
P: Que pensa das portagens para as SCUT?
R: Politicamente não a quero avaliar, mas é desastrosa para a economia do país, sobretudo para algumas regiões, e é insustentável para os operadores.
P: E se fossem para ligeiros?
R: Esses devem pagar, claro. As autoestradas foram feitas para ligeiros. Os preços das portagens não permitem que os pesados as utilizem. Só lá andam em situações de urgência e de risco.
P: Quer isso dizer que, quando houver pagamento nas SCUT, os pesados vão voltar à rede antiga?
R: Sempre que hover alternativa e for possível. Não temos preço para utilizar estradas com portagem.
Para melhor perceber o raciocínio, melhor ler a entrevista toda. Há mais pérolas maravilhosas.
Notem: aquilo que já se sabia, finalmente num jornal de grande tiragem - os nossos camiões andam nas estradas nacionais. Temos a maior rede viária de autoestradas da Europa; teremos, em breve, três ligações por autoestrada entre Lisboa e no Porto. E eles guiam pela N1. Há alguém nesta merda de país que possa fazer alguma coisa contra isto? Foda-se. Desisto.
Dia 21 de Março, pelas 18:30, estarei com Adriana Calcanhotto na Fnac do Chiado para uma conversa informal sobre o novíssimo O Micróbio do Samba. Disco feliz em toda a amplitude da palavra. Aqui fica, como na rádio, "o primeiro avanço": Eu Vivo a Sorrir.
Uma das músicas mais espectaculares para se tocar na bateria. Esqueçam lá a letra, façam de conta que ela faz algum sentido. Só podia ter sido o nosso amigo Roger Taylor a escrevê-la, claro. O rapaz (já explico a denominação) tinha 34 anos quando tocou em Wembley, 1986. Eu faço 34 daqui a três semanas. Algo me diz que, além de já não marcar o golo no final da taça ao serviço do Famalicão, também já não vou tocar em Wembley... A velhice só desilude...
Não fui à Avenida da Liberdade. E não fui porque a culpa não é deles. Porque eles, como bem dizem o João Pereira Coutinho e o Nuno Costa Santos aqui, não existem. Eles são sempre eles até que um ele entra para o círculo. E deste nunca fazem parte os mais próximos. Basta percebermos a exponenciação e o eles somos nós.
E não fui porque não acho que a geração a que pertenço esteja à rasca. O Henrique Raposo, de que aqui já dei conta, diz bem no Expresso desta semana. Acho que esta geração tem é de se desenrascar, o que é muito, mas mesmo muito diferente. Tentarei explicar.
No parlamento há cinco forças políticas. Dessas, só três são parte da solução - PS, PSD e CDS. As outras duas são parte do problema - PCP e BE (o PEV para mim não conta). Isto porque não se comprometem nem cedem em nada. E, meus caros, para se chegar a qualquer lado numa negociação é preciso mais do que impôr um modelo. Se o eleitorado só lhes dá 20% de votos é porque há 80% que com eles não concordam. E é estúpido - esta é a palavra - não haver qualquer tipo de negociação com os restantes 80 para resolver o problema. Assim, não solucionam - apenas esperam que, miraculosamente, os restantes 80% percebam que sempre estiveram errados e aumentem a sua votação para, quem sabe um dia, poderem então impor pela sua maioria eleitoral a solução que preconizam.
Digo isto porque na Avenida da Liberdade vi muito voluntarismo mas nenhum comprometimento. Como aquela história da prato de bacon com ovos: sim, a galinha contribuiu - mas o porco comprometeu-se. E na Avenida pareceu-me tudo muito tratem de nós que nós precisamos. Não, não precisam. E não, o tempo não volta para trás.
Primeiro a segunda frase: o tempo não volta para trás. Como bem diz o Alberto Gonçalves (ou o email que lhe enviaram e que ele teve a inteligência de citar) na crónica de hoje no DN, o tempo do trabalho dito não precário ou seguro (o que quer que isto queira dizer), acabou. Já foi altura em que alguém saía da faculdade e tinha emprego garantido na área onde estudou. Já foi altura em que uma pessoa ingressava numa fábrica e sabia que tudo ia correr bem até à reforma. E, pasme-se, por uma razão simples: porque a democracia e o acesso à educação chegou a Portugal há quase quarenta anos. Foi esta democracia que acabou com as corporações e as empresas do regime e fez com que A Boa Reguladora tivesse que começar a competir com o estrangeiro. Assim, teve de se adaptar ao mercado e, ironia das ironias, dispensar o pessoal que lá trabalhava. Porque já não tinha um regime que assegurava que o senhor António Augusto continuava a ser um empresário de sucesso e a possibilitar que meia cidade de Famalicão vivesse à custa da sua fábrica. Por outro lado, a educação para todos fez com que todos quisessem ser doutores e aquilo que era o sector primário e até secundário fossem completamente destruídos. Vivemos num país onde ser agricultor ou pescador ou empregado fabril ou afim era profissão para pessoas de segunda. Nunca permitiria um pai que investiu na educação do seu filho ou um filho que estudou investido dessa permissa parental trabalhar na pesca, na agricultura ou na indústria. Mesmo que ser agricultor já não seja só a enxada ou ser pescador só a rede.
Por isso, não há como. O tempo já não volta para trás. E se somos hoje um país desenvolvido, temos de nos ajustar a esta mudança de paradigma. A dita precaridade veio para ficar. E o recibo verde e o contrato a prazo é um exemplo acabado do futuro. Sim, há situações a melhorar no que diz respeito a alguns desses aspectos. Seja nos descontos para a segurança social, seja no IRS, seja no que for e que outros saberão bem melhor do que eu. Mas fico mais preocupado com a questão de diminuirem a indemnização por despedimento legal e a impossibilidade de se ter acesso a algum subsídio de desemprego antes de 450 dias de trabalho como contratado ou de os recibos verdes não contarem como trabalho passível de acesso a esse subsídio, do que a questão de entrar para a empresa ao fim de três contratos ou afins. Eu trocava de bom grado a entrada numa empresa por alguma segurança enquanto procuro outro emprego. É que depois de entrar estamos seguros, não estamos? Mas a empresa não. A empresa está pior, porque com mais responsabilidades e só se o, dito, trabalhador (eufemismo interessante) matar o, dito, empregador (notem as palavras) é que se pode libertar do primeiro. E é isso que traz precaridade - não haver flexibilidade laboral porque as pessoas ainda acham que vai ser trabalho para a vida e que podem esticar-se ao comprido quando entram para os quadros de uma empresa. Lembro, para reflexão, o exemplo os bolseiros de ciência em Portugal, que não passam recibo verde nem têm contrato a prazo. Não seria melhor para todos eles passarem recibo verde? É que podem estar com bolsas pós-doc até aos cinquenta anos e nunca tiveram uma declaração de IRS que lhes possibilite qualquer crédito.
O tempo não volta para trás e somos nós todos que nos temos de ajustar. Aqui entra o comprometimento, e a dois níveis. O primeiro, pessoal; o segundo, social. Comprometo-me pessoalmente em arranjar para a minha família as melhores condições possíveis de vida dentro de todas as áreas em que possa ser útil a ela. Escrevendo, editando, lendo, fazendo ginástica ritmica ou indo trabalhar como calceteiro. Comprometo-me pessoalmente a trabalhar. Seja aqui, ali ou acolá. Comprometo-me a tentar. Comprometo-me a não desistir. Comprometo-me a tentar ser competente na área que escolhi. E se nessa área não der - a ser competente na área em que não escolhi. A ser buliçoso - a bulir. Comprometo-me a morrer, mas a morrer a tentar. A dar ao meu filho as melhor condições possíveis e engolir os sapos que tiver de engolir, mesmo que minha merda saia verde um dia. Porque trabalho é trabalho e conhaque é conhaque. Bom é, bom era, que se juntassem os dois. Já houve alturas em que foi um par perfeito. Hoje, a espaços, é um par perfeito e disse dou graças ao Deus em que não acredito. Mas labuto. E não me queixo de estar à rasca. Não. Desenrasco-me.
O segundo comprometimento é social. São precisas, se a internet não me engana, 5 000 assinaturas para criar um partido em Portugal. Se os três jovens que se dizem à rasca querem comprometer-se, criem-no. Estiveram 300 000 pessoas em manifestação. Desenrasquem-se. Mudem por dentro. Não há-de ser difícil. Ou melhor, até é. Isto porque nem todos são inteligentes em todas as áreas. E isso de criar partidos e trabalhar nesse comprometimento obriga a uma certa dose de qualidades em algumas áreas que, talvez, nenhum dos três tenham. Mas desses 300 000 há-de haver quem saiba finanças, quem seja sociólogo, quem saiba economia, quem pense, quem pense, quem pense e ainda mais quem pense. Agora, sejam comprometidos com o país não contra a precaridade mas a favor do trabalho. Não contra eles, mas sendo eles. Não sendo parte do problema (como os 20% em cima) mas negociando para ser parte da solução. A democracia é cedência, não é imposição.
Numa frase: não estejam à rasca - desenrasquem-se.
Ou é o mundo, ou sou eu. Mas depois de ver Sousa Tavares e Santana Lopes a debater há uns meses a situação política lado a lado no Jornal da Noite da SIC, hoje cabe-me referir que, espanto do espanto, concordo integralmente com a crónica do Henrique Raposo no Expresso. Talvez seja sinal de que o apocalipse se aproxima, não sei. Ou então que pessoas com visões algo distantes do modelo de Estado acabam por perceber que, entre modelos, o bom senso é sempre aquele que deve imperar.
A pedido de várias famílias, deixo-vos aqui a letra do video do último (esperamos todos) single do Roger Taylor, e cujo video podem ver uns posts mais abaixo. Ele toca todos os instrumentos, como se pode ver no video. A Marta acha que é porque ninguém quis tocar com ele nesta canção. E eu tendo muito a concordar com ela. Pois então, a, digamos, poesia:
God would weep
if he existed
and he saw what man can do to man
He'd think that we were twisted
His unblinking eye would blink and then
He'd say not in my name you don't
you stupid little men
With your arrogance and ignorance
you do it time and time again
I must be getting old
There's a fire and a fury
driven deep into my soul
It's the helplessness that comes
from being under your control
And everything is broken
We got the High Street full of holes
The High Street's full of holes
High Street's full of holes
Five million cameras stare at us
They treat us like we're fools
Our privacy is meaningless
We're suffocating by ten thousand rules
This Kingdom's not united
Just a complicated mess
Are we in Europe
Half in Europe
Not in Europe
We're soulless, spineless, directionless
I must be getting old
There's a fire and a fury
driven deep into my soul
It's the helplessness that comes
from being under your control
And everything is broken
Stylophone!
And everything is broken
Why send our young men out to die
in wars that we don't understand
Why on earth should we be meddling
in places like Afghanistan
The price is much too high
in terms of money or our precious men
Your reasons are mysterious
and quite beyond ken
I must be getting old
There's a fire and a fury
driven deep into my soul
It's the helplessness that comes
You even sold our gold
And everything is broken
O Porto tem neste momento 62 pontos. O Sporting, 36. Se fizermos uma regra de três simples, prevendo o que vai acontecer entre a jornada 22 e a 30 tendo em conta o que aconteceu até agora, o Porto terminará com 84 pontos e o Sporting com 49. Quero com isto dizer que se o Couceiro não se põe a pau, com um bocadinho de sorte (quer dizer...), o Sporting ainda acaba esta maravilhosa época de 2010/2011 com metade dos pontos do campeão. Mas isto não é o que mais me surpreende, sinceramente. O que mais me surpreende é que, sabendo que nas últimas dez temporadas, os leões ganharam tantos campeonatos nacionais como o Boavista, e nas últimas trinta mantiveram a mesma honrosa média de um por década, todos nós, sportinguistas, achemos que vamos lutar para o título na próxima época. Ah, homens de fé!
Chama-se Déjá Lu e é aqui. Uma excelente ideia para conseguir angariar receitas para a APPT21 - Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21. Tive a honra de um convite para enviar um livro autografado para leilão. A Idónea Bibliotecária, num acto impensado, colocou-o em licitação por 14 euros, um valor considerável nas tempos de crise em que vivemos. Mas algumas almas caridosas, com toda a certeza ainda mais impensadamente, têm licitado o Todos os Dias. Vai em 18 euros. A dedicatória tem três páginas, é certo. Mas é bom aviso para o que se preparam para, digamos, ler. O meu grande medo era que a licitação começasse nos 14 e acabasse nos 3. Agradeço a todos os comentários e prometo uma coisa, do agrado de um dos comentadores: assim o queira a Idónea Bibliotecária e coloca-se em licitação um exemplar das Pulgas. Se é uma questão de nos podermos prestar à vergonha de ninguém querer um livro nosso, pelo menos que seja pelas melhores causas.
O Roger Taylor é o maior do mundo. Quer dizer, nunca foi - mas é. Comecei a tocar bateria por causa do homem, é certo, mas tenho - sempre tive - a consciência que ele é bem capaz de ser o mais azeiteiro dos Queen. E isso é um feito assinalável para quem tinha como companheiros de aventura o mais azeiteiro vocalista que alguma vez existiu, um astrónomo que conseguiu manter o mesmo penteado 40 anos seguidos (and still counting...) e um baixista que... esse era só o baixista, como quase todos os baixistas, não conta.
Roger Meddows-Taylor: bom músico - certo; anos 70 bem vividos - certo; compôs a These are the Days of Our Lives, e isso já lhe dá alguns pontos. Claro que, como bem se nota pelo video em baixo, chegou lá por tentativa e erro: em 40 anos de prática lá conseguiria sempre compor alguma coisa de jeito.
Esta música, que aqui apresento, é capaz de ser a pior música alguma vez gravada. Depois de ouvir isto, fico com a sensação que o São Lágrimas do Zé Cabra é Mozart.
Roger Taylor compôs a música com a linda idade de 58 anos. É por estas e por outras que depois começamos a concordar com a idade de reforma dos gregos...
Mas para que não fiquem assim tão mal impressionados, ouçam lá a que importa. E não, não foi o Freddie Mercury quem compôs esta canção de despedida...