Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

(Ao intervalo)

 

É daqueles jogos que são jogões e que por isso estão cheios de coisas que nós sabemos serem sempre cinzentas. Mas olha eu a preto e branco:

- O Real entrou pior, e sem perceber encaixou dois em pouco mais de 15 minutos. E ainda uma bola à barra.

- Os erros inidividuais pagam-se caro: é incrível como o Marcelo deixou o Pedro passar por ele no segundo golo.

- O Ronaldo teve uma reacção normal de quem se sente gozado - como foi - pelo Guardiola. Eu vinha para a rua, mas pregava-lhe um soco.

- O Valdes correu meio campo para empurrar o Ronaldo e levou amarelo como o Ronaldo. Até aceito. Só acho mal o Guardiola ter continuado no banco.

- O Valdes fez penalty sobre o Ronaldo e nem houve penalty marcado nem houve segundo amarelo.

- O Ricardo Carvalho mexeu o braço esquerdo porque o Messi o estava a agarrar com a mão direita - se levou uma cotovelada do Carvalho foi porque foi atrás dela. E com ela um amarelo.

- O árbitro é um gajo com os ts no sítio. Num jogo destes não andar sempre a apitar (quando o podia fazer), tendo um critério bem lato de análise dos lances mais divididos, é de alguém que pensa que consegue controlar um Barcelona-Real. Não consegue: aposto que se continuar assim não acabam 11 contra 11.

- O facto do Ozil ter passado ao lado do jogo foi, em meu entender, o factor mais importante para o resultado (olha, acabou de ser substituído ao intervalo: não percebo puto de futebol, mas pelos vistos vi isso desde Lisboa.)

Dito isto: puta que pariu, que grande jogo de futebol.

Vamos ver como reentra o Real. 

 

(Algumas horas depois do fim do jogo)

 

O Real reentrou pessimamente. Quinze minutos passados e já estavam quatro encaixados nas redes do Casillas. Depois foi ver o carrocel a funcionar. Apontamentos:

- Péssimo jogo de Benzema, Di Maria e Marcelo. Num Real a afundar, estes foram quem puxou para baixo. Porque defenderam mal e atacaram pior.

- Os defesas centrais portugueses fizeram o que podiam e o que não podiam. E tiveram sorte, que o Ricardo Carvalho deveria ter sido expulso por ter cortado a bola com a mão (levou amarelo - o jogador do Barça isolava-se).

- O árbitro aguentou-se bem. Parabéns. Só foi pena ter tido uma influência decisiva no resultado ao não expulsar o Valdes e marcar o penalty (o já citado).

- Os jogadores do Real aguentaram até ao minuto 92. Só aí Sergio Ramos colou o pistão. Quis partir a perna ao Messi, que teve a sorte da protecção de uma outra perna, de um colega de equipa. Não contente, Sergio Ramos ainda agrediu Pujol e Xavi. Deve levar pelo menos uns 4 jogos.

- Mourinho não se levantou toda a segunda parte. No final, na conferência de imprensa, disse que esta derrota era fácil de digerir. Porque tinha sido tão justa que não custava tanto como uma injusta. Quando se lembrou desta para incutir força para o balneário, tinha certamente acabado de levar o quarto golo. Ficar sentado já deve ter sido parte do plano, imagino.

Dito isto: fiquei fodido, queria que o Real ganhasse. Gosto do Mourinho. Mas ver o Barcelona jogar é como ouvir uma sinfonia do Bethoven. Eram oito os titulares que tinham saído da cantera blaugrana. E quando Jeffren, outro miúdo da cantera, fez o quinto golo, o que se festejou foi toda uma filosofia, não foi um golo.



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Domingo, 28 de Novembro de 2010

 

Tenho muita simpatia pelo André Villas-Boas. E alguma inveja.

Simpatia, porque é do meu ano da graça de Nosso Senhor de 77, é assertivo, sabe o que quer, é bom naquilo que faz. Inveja porque tem o hífen no nome. Como já disse noutro post, tem a sorte de ter um apelido tradicional. Ainda para mais com dois lls no Villas, não se pode comparar com um coitado de um Reis-Sá, impedido por lei de ser registado. 

Mas estou apreensivo com o seu percurso no Futebol Clube do Porto. Isto porque tem ganho os jogos quase todos mas empatou dois. Poderia ser visto como uma coisa boa, claro. Mas ele já foi expulso por duas vezes. E, pasmemo-nos, nos dois jogos em que empatou. Começa a ser uma tendência. Temo que no próximo empate volte a chamar caro colega a outro árbitro e esteja mais dois jogos na bancada. Mas temo bem mais o que poderá acontecer quando perder um jogo. Perderá, aí sim, totalmente a cabeça? Veremos o homem a correr atrás de um dos apanha bolas? Ou a invadir a claque do adversário munido apenas com a braçadeira que usa como uma bracelete? Estou expectante pelos próximos capítulos. E acho muito mal, muito mal mesmo, que o treinador do Porto seja seis meses mais novo do que eu. É sinal de que estou a ficar velho e isso não me agrada nada.



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Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010

Estava num hospital às oito da noite. Que funcionava, mesmo com enfermeiros e auxiliares com dísticos a dizer "trabalho mas estou em greve". E que funcionava - funcionou - bem. Mas eis que, no meio da sala de espera, o telejornal se inicia com um José Rodrigues dos Santos contundente: "Em Famalicão, gerente do Intermarché é detido depois de atropelar duas funcionárias do piquete de greve". O meu coração tremeu - aconteceu uma coisa em Famalicão digna de registo na abertura do telejornal e não estava relacionada com a descida do clube para a terceira divisão? Mas onde, em Famalicão? Ao lado da igreja onde fui baptizado e baptizei o meu filho, ali, em Calendário. Liguei imediatamente à minha avó, que mora a cinquenta metros e que me disse, como se fizesse greve mesmo reformada: "não paga aos funcionários e ainda os atropela". Morte ao artista - é deixá-lo penar na cadeia! Mas, pensemos: o que são piquetes de greve?

Diz a "Lei da Greve" que um piquete de greve "pode ser organizado pela associação sindical ou pela comissão e greve para persuadir por meios pacíficos os trabalhadores a aderirem à greve". Diz o dicionário que é um "grupo de grevistas geralmente colocados à entrada do local de trabalho que asseguram a execução das instruções de greve."

Antes de ser apelidado de reaccionário e fascista - como vou ser - pode alguém explicar-me qual o sentido que faz num país livre como aquele onde vivemos, onde existe o direito à greve e - atenção - o direito a não fazer greve, onde existem tribunais, liberdade de expressão, de culto, etc e tal, o sentido que faz, dizia, existir gente que tem o direito de persuadir os trabalhadores a aderirem à greve? Ou, como vem no dicionário e mais acertadamente, gente que deve asseguar as instruções da greve? Reparem, retirei propositadamente o "pacificamente" da primeira frase. Porque não consigo ver nada de pacífico - mesmo que, em vez de atropelamentos por parte da entidade patronal, tenhamos uma coisa que se chama coaçção psicológica quando não física do piquete ao resto dos trabalhadores - em ter um grupo de marmanjos a "persuadir" os, claro, pouco esclarecidos.

É importante dizer que o que o senhor do Intermaché fez é errado, a todos os níveis. Até porque o homem é o patrão e esse não tem o direito de, sem persuasão, ajudar os trabalhadores que quiserem (entregues ao grande capital ou simplesmente lambe botas) a ir trabalhar. Agora talvez não fosse uma péssima ideia um fura greves mandar senão um carro pelo menos algumas frutas para cima do, consagrado na lei, piquete da greve... Mas isto sou só eu a divagar, fascista e reaccionário.

Hoje muita gente fez greve. Concordando ou não, estão no seu direito. Respeito, aplaudo a manifestação de cidadania que representa. Mas eu hoje não fiz greve. Não achei que devia. E pelos vistos, os deputados, que não podem, também não fizeram. Tirando alguns do PC e do BE que foram fazer "trabalho político" para junto de um ou outro piquete. Talvez fosse de ver na justificação para a falta de presença no parlamento se é "trabalho político". Nada como trabalhar para que outros não possam - se o quiserem.

 

 

[Em cima, a igreja de São Julião, em Calendário, que cito no texto. O Intermarché é ali na entrada que se vê à direita na fotografia. Quem desce a rua encontra à esquerda o Campo dos Bargos, onde joga o meu clube. No lado esquerdo (fora da imagem, claro) o cemitério. E a cinquenta metros, a casa dos meus avós. É por aqui que a Justina Ferreira Belo deambula "Todos os Dias"]



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Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010

Razões extraordinárias fizeram com que tropeçasse na biografia, escrita por Miguel Pinheiro, de uma personalidade que nunca me despertou a mínima curiosidade - Francisco Sá Carneiro.

A culpa desta falta de interesse da minha parte estava no unanimismo que trazia o seu nome. Achava que tinha sido quase um santo, um lutador contra um regime através da Ala Liberal e uma figura sempre unânime no PSD. E, tenho a certeza, esta é a ideia que a maior parte dos portugueses que não viveram o 25 de Abril e os anos seguintes já adultos têm dele. A ideia mais errada de todas.

Primeiro é preciso dizer que a culpa disto é do próprio PSD, que o entronizou para disso retirar (quando interessava) dividendos políticos. Bastava falar no seu nome num congresso - e Santana Lopes lá arranjava maneira de o fazer sempre - para todos entrarem em transe como se tivessem visto a Virgem Maria outra vez sobre a árvore, pastorinhos que pareciam. À falta, a maior parte das vezes, de uma coluna vertebral política que unisse o PSD, ninguém melhor que uma figura morta, apresentada como unânime e lembrada como assassinada, para o unir.

Mas a leitura da biografia do Miguel Pinheiro altera tudo. Quer dizer, todos sabiam como tinha sido Sá Carneiro. Mas todos tinham feito por esquecer, como quando lembramos depois da morte dos que amamos apenas as coisas que boas que aconteceram (ou as más das que odiamos). Francisco Sá Carneiro era uma pessoa instável, repentista, brilhante mas ao mesmo tempo completamente avessa a compromissos. Como pode um individualista ferrenho virar cala congressos de um partido de governo? Com a ajuda de uma morte trágica e a transferência da alma directamente para um outro político - Pedro Santana Lopes - que assim resolveu a sua instabilidade inventando a estabilidade daquele que lhe deu a alma.

Não nego, pela leitura da biografia, que Santana Lopes tenha sido um dilecto discípulo deste mestre (foi tanto que o seu percurso errático é a melhor homenagem que pode fazer à personalidade de Sá Carneiro - em alguns pontos tão parecida). Mas há um episódio que demonstra bem a mentira que o PSD nos tem oferecido: o nome.

É de todos sabido que Santana Lopes fala no PSD como o PPD/PSD. Quando o faz, imaginamos imediatamente que a transfusão é directa de Sá Carneiro. Nada mais errado. Como nos diz Miguel Pinheiro, Sá Carneiro só criou o PPD em vez do PSD porque nos cinquenta e tal partidos políticos registados nas semanas seguintes ao 25 de Abril, já alguém tinha criado o Partido Cristão Social-Democrata. Foi o escritor Ruben A. que lá ofereceu o mal menor: Partido Popular Democrático.

Passa para PPD/PSD por uma razão ainda mais interessante: o grupo dos dissidentes de Aveiro tinha formado um MSD (Movimento Social Democrata) que se poderia transformar em PSD. Se a isto somarmos o facto de Sá Carneiro ter de andar sempre a explicar pela Europa fora que o PPD era social-democrata e não popular (como são os partidos de direita europeus), achou por bem, em 1976, num Conselho Nacional alterar de PPD para, numa primeira fase e por causa das eleições que seriam próximas, PPD/PSD. O episódio desta passagem é hilariante e deve ser lido nas páginas 476 e 477. Vai desde a mesa do Conselho Nacional começar por não ouvir um protesto até à, suposta, invenção de alguns conselheiros que são contados como abstenções para que estivesse quórum na sala.

Isto é: Sá Carneiro nunca quis ser líder do PPD nem sequer do PPD/PSD. Sempre quis ser líder do PSD. E nós, vencidos não do catolicismo, como diz Ruy Belo, mas da revolução, andamos estes anos todos a pensar que o homem viu alterada a designação do partido depois da sua morte.

É um exemplo, apenas. De tantos os que nos espantam pela surpresa de vermos alterada toda a percepção pública de um homem. 

Quanto à biografia: eu sei, anda toda a gente (ou pelo menos li algures) a professorar que isto de dizer que se lê como um romance um livro de não ficção é um disparate. Não concordo. Até porque este lê-se melhor do que um romance. (O início e a primeira parte do epílogo são de antologia.)



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Sábado, 20 de Novembro de 2010

Como vivo em Lisboa, tive acesso não só à tolerância de ponto de sexta-feira como também a alguns relatórios muito pormenorizados de alguns dos serviços secretos mais secretos do mundo: CIA, KGB, Gestapo, PPBO - Pela Protecção do Bairro dos Olivais (o mais perigoso de todos). E este último soprou-me ao ouvido um segredo muito secreto: a identidade do Mascarilha.

Pode ele estar descansado, que assinei um documento de confidencialidade com 34 páginas e 5 anexos. Mas de que vale um papel que não tenha um formato rectangular e dê para trocar por livros de poemas ou bolas de berlim do Manuelezinho Natário? Mas como estou a ler a biografia do Miguel Pinheiro sobre o Sá Carneiro, tenho ainda mais presente que, nunca tendo nutrido grande simpatia pelo anonimato, sempre tive menos ainda pelo chamado chibanço. Permitir-me-á, no entanto que, a partir de agora, modifique o meu modo de tratamento de sua digníssima pessoa: passará de Mascarilha a Senhor Macieira.



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Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010

O Rui Lage já me disse: na sequela do filme Alien vs Predator há a cena mais escabrosa e maravilhosa de ambas as sagas. Eu tentei uma vez ver o filme, mas não passei da primeira meia hora. Um dia estive quase para lá voltar, mas Deus ou o Destino não deixaram e eu não sabia do dvd. Hei-de lá voltar um dia.

Escusado será dizer que entre uma e outra série (as duas juntas, então, em dois filmes nitidamente menores), há um oceano a separá-las. Predator tem um primeiro capítulo relativamente interessante, com um Schwarzenegger um bocadinho melhor que o usual medíocre (só suplantado pela sua prestação nos dois primeiros Terminator onde aproveitaram bem o facto de ele ser um robot a representar para o fazer representar um robot). Alien é outra fruta. Ridley Scott, primeiro, James Cameron depois e David Fincher a seguir fizeram três notáveis filmes, todos eles acrescentando muito à mitologia que HR Giger desenhou. O quarto filme, de Jean-Pierre Jeunet é bom, concedo. Mas não está ao nível dos outros três porque, como seria de esperar, o argumento descamba com a coisa do híbrido no final. Aquilo que era um animal lindíssimo (venha alguém dizer que o alien não é uma coisa esteticamente muito considerável), dá lugar a uma coisa sem qualquer sentido.

Mas isto tudo para dizer que, fâ como sou de ficção científica, fico sempre contente quando há coisas novas a acrescentarem. E este clip, roubado à má fila ao Rogério Casanova, acrescenta muito.

 

 



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Quinta-feira, 18 de Novembro de 2010

Esta é a música mais conhecida de Elliot Smith. Suicidou-se há anos e deixou orfão uma série de seguidores. Não foi nenhum génio, não foi um gajo qualquer: foi só uma pessoa que pegou na guitarra e compôs poesia. Fica o video da música que mereceu reconhecimento global por causa do filme do Gus Van Sant. E, em acrescento, ele como um cisne, nos Óscares, a fazer o que fazia melhor: estar e colocar-nos fora do nosso elemento, como se tudo fosse inesperadamente simples e estranho.

 

 

 



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Sexta-feira, 12 de Novembro de 2010

Talvez devido ao destaque dos booktailors, eis que finalmente alguém não se conseguiu conter e lá arrasou (sapientemente, como se nota) esta crónica.

Só tenho pena da existência de um erro imperdoável: é mentira que Marcelo Rebelo de Sousa esteja registado no Instituto de Socorros a Náufragos. Fui ao site, pesquisei no google, telefonei a amigos, mandei um email ao Chefe de Estado-Maior da Armada - não está. O resto é tudo verdade. Principalmente, como se nota pelo teor da crónica, a última frase.



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Quarta-feira, 10 de Novembro de 2010

Entre os Blur e os Oasis - como é sequer possível que esta pergunta se tenha colocado em 1995! - a resposta é muito evidente: uns são aqueles irmãos tristes e bêbados cuja única coisa boa que fizeram foi ter visto um deles namorar com aquela moçoila jeitosa das All Saints; os outros são artistas e têm como vocalista esse senhor chamado Damon Albarn. Por estes dias tenho ouvido muito uma música. Há quem a queira cantar vezes sem conta e eu acompanho, claro - afinal, por razões diferentes, somos ambos um bocadinho desafinados. Fica o teledisco.

 

 



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Segunda-feira, 8 de Novembro de 2010

Michel Houellebecq venceu o Prémio Goucourt com Le Carte et le territoire. Merecido? Não sei, não li o livro em questão nem conheço os demais concorrentes. Merecido? Se for à luz do que já lhe li, mais do que merecido. Em baixo, a capa que a Fábrica Mutante fez para o Extensão do Domínio da Luta, o seu primeiro romance, e que a Paula Lourenço traduziu para as Quasi há alguns anos. Obrigatório.

 

 



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Sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

Confesso que ri com uma parte da prestação de um tal Pimpolho nos Ídolos. Rap-pimba e uma versão do Pão com Manteiga do Tino de Rans, faz rir. O programa presta-se a que uma ou outra destas personalidades apareçam e tem piada pela falta de decoro que algumas possuem. Mas Os Ídolos não é aquilo, é gente a cantar em galas com a Roberta Medina o que só acrescenta à televisão portuguesa. Esse intróito que são os castings é como ver o Terceiro Calhau a Contar do Sol só que com calhaus que em princípio têm terminações nervosas e um centro cerebral um bocadinho maior que o dos répteis. Depois desaparecem, dissolvem-se na população, são só os maiores lá da terra porque apareceram por momentos na televisão a fazer figuras tão tristes que dão muita alegria aos outros. São os nossos bobos pós-modernos, cantores desafinados que não se conseguem autoavaliar.

Mas o que me preocupa é que uma pessoa sem qualquer tipo de noção do que é a realidade que o envolve, em vez de, depois dessa prestação nos Ídolos, ser levada a um psiquiatra que lhe tratasse o desequilíbrio que tem no cérebro, seja aproveitada em programas de televisão que não se deveriam prestar a isso. Falo de um video que no mesmo youtube o mostra numa Companhia das Manhãs a ver lida a contra-capa do seu livro onde se encontra, cito, "aos quinze anos emagreceu devido à prática de masturbação excessiva". Também diz que perdeu a virgindade aos nove com uma prima, mas descansem que ele informa em directo que não houve penetração (a apresentadora responde "não queremos saber", o que me faz pensar exactamente para que o quis então lá).

Mas isto, meus caros, sou só eu a ser um intelectual fascizóide. Temos A Casa dos Segredos e hoje, enquanto esperava uma consulta médica, vi a Júlia Pinheiro (a escritora) a entrevistar três senhoras de idade que tinham em comum o facto de terem tido uma vida tão ocupada que não tiveram tempo nem vontade de foder ninguém. A uma delas fez as perguntas que se impunham: "Nunca beijou ninguém, pois não? É pouco higiénico, não é?" E todos riram com os dentes brancos à mostra, desta vez não da senhora - que já é a maior de Samora Correia porque faz muito voluntariado e ajuda, cito, os "coitadinhos", e não tem culpa de ter passado a vida inteira com um défice hormonal não diagnosticado - mas do maravilhoso país que temos e que leva aos programas das tardes e das manhãs tamanhas personalidades.

O que nos vale é que em horário nobre não há nenhuma casa com segredos onde o filho do ex-seleccionador nacional de futebol acaba processado pelo resto da família. E coisa mais estúpida não há: vai pedir-lhe dinheiro de indemnização e depois quando morrer deixa-o para quem? Ele tem sempre direito a uma parte do que pagou... Deixem lá os pimpolhos deste país serem só o tolo da sua aldeia. Em vez de fazerem de Portugal esta aldeia. Ou então, senhora virgem tão voluntariosa, faça lá o favor de o acompanhar à consulta externa do Júlio de Matos.



publicado por JRS às 22:39 | link do post | favorito

No tempo em que Mark Kozelek ainda cantava e não esganiçava.

A versão original é dos Red House Painters, álbum Songs For a Blue Guitar de 1996, primeira faixa, despida de baterias e parafernálias eléctricas. Esta saiu na banda sonora do filme Vanilla Sky do Cameron Crowe, de 2001. Mas não é a única. Numa edição em vinil da mesma banda sonora, exactamente da editora de vinis de Crowe, há ainda uma outra versão que desta tem apenas uma substancial diferença: mais uns quantos minutos. Notarão, ao segundo vinte e pouco do quinto minuto, a entrada do piano. Que continua. Tenho de arranjar maneira de a passar para o iPod... Com a tecnologia, o gira-discos foi encaminhado para a garagem; mas mesmo que estivesse operacional não permitia a passagem do analógico para o digital. Enfim, sou um gira-discó-para-iPod-excluído. Fiquem com o video, com a menina de O Fabuloso Destino de Amélie num tipo de teledisco feito não sei muito bem por quem e porquê.

 



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Terça-feira, 2 de Novembro de 2010

Caro Amadeu, deixe-me agradecer-lhe primeiro a visita a esta Rua da Castela, situada, como saberá, entre o lugar de Fontelo e a Rua Padre Zeferino José Sampaio, freguesia de Calendário, concelho de Vila Nova de Famalicão. Só por azar não é aquela onde moram os meus avós, que ainda estão no lugar da Castela, mas viram - talvez devido à tão grande proximidade da sua casa com o cemitério e a igreja - a toponímia do concelho oferecer-lhes nome de Padre para a sua rua. Ficou a da Castela para a da parte de trás, mais longe daqueles que diz serem o meu avô os vizinhos mais sossegados que tem.

Mas temo, Amadeu, pela minha saúde literária com o seu verbete. Porque embora diga ter um grande dossier sobre a minha "actividade literária", começar por escrever mal o nome e acabar por errar na profissão (continuo com a responsabilidade de editar livros, agora na Babel, dirigindo as chancelas Pi e Verbo) não augura nada de muito bom para o seu projecto. Felizmente, a segunda parte estará salvaguardada: se não mereci uma referência que seja ao meu umbigo literário no seu pequeno balanço da década, imagino o verbete, com pequeno ou grande dossier, começando e acabando como cita, "Sá, Jorge Reis, Vila Nova de Famalicão - 1977". Mas torna-se um bocadinho grave - mas enfim, que sei eu... - a gralha, ainda para mais voluntária, na forma de grafar o meu nome. É que o hífen quer dizer que o segundo nome que uso como escritor é mesmo Reis-Sá. E que não é muito, digamos, academicamente correcto andar a alterar o nome das pessoas só porque sim. Mas imagino-o a saber bem mais do que o professor catedrático da Sorbonne que fez o verbete do David Mourão-Ferreira no Dicionário de Literatura Portuguesa que a Presença em boa hora editou há alguns anos. E se o argumento for que ele tinha no nome civil o hífen, digo-lhe duas coisas: só não o tenho porque o código civil é fascista e só permite a alteração se for num nome tradicional (o que quer que isto queira dizer); se fizer um dicionário de autores de São Martinho de Anta talvez seja boa ideia colocar no "R" um escritor presencista chamado Adolfo - Adolfo Rocha.

Quanto ao tempo que é outro tempo nas terras pequenas: o meu post era equívoco, perdoe-me. Por muito que haja tanta e boa gente muito feliz em Famalicão com o meu exílio voluntário em Lisboa, este provinciano ainda acha que a cidade grande não rima com onde o coração se esconde mas antes com onde se esconde o coração.

PS: As Quasi sempre se chamaram Quasi Edições - As Quasi Edições. O verbete entrará portanto no "Q", de Quasi. As Edições Quasi nunca existiram. Mas se tivessem existido, aí sim, seriam no "E", de Edições. Ambas antes do "R", de Reis-Sá.



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Segunda-feira, 1 de Novembro de 2010

Deixei Famalicão há um ano. Como diz o outro, com um travo de amargura. Mas fico contente quando alguém - neste caso o Amadeu Gonçalves - dá o devido valor ao que deixei em Famalicão. Isto quando resolve fazer "uma análise sobre a criatividade literária em V. N. de Famalicão, não só no seu contexto local, como também num contexto de âmbito nacional e, como não pode deixar de ser, num plano internacional. Nestes últimos doze anos, Famalicão não tem fugido à regra nestas três perspectivas, na medida em que essa mesma critividade literária se tem manifestado de uma forma original." As Quasi, eu enquanto escritor, que bom quando nos dão valor... Espera lá. Acho que li mal. O quê? Sim, houve uma revista que dirigi com o Walter [sic] Hugo Mãe, a Apeadeiro, e houve... Espera. Não houve mais nada que tenha feito!

Afinal, pelos vistos, não houve mesmo. A Medalha de Mérito Cultural atribuída pela Câmara e que as Quasi receberam em 2004, foi um equívoco. A Loja das Quasi - Espaço de Arte, Literatura e Design ter sido considerada a melhor loja do país de 2008 pela insuspeita Confederação Portuguesa de Comércio e Serviços e pela Escola de Comércio de Lisboa, outro. A colecção Oito Séculos, que as Quasi em co-edição com a autarquia, lançaram e onde se editaram várias monografias sobre Famalicão, outro. A única História de Vila Nova de Famalicão, com 600 páginas e da mesma colecção, outro. As Quasi terem publicado, a partir de Famalicão e durante dez anos, seiscentos títulos, a maior parte deles de literatura e poesia, de prémios Nobel, Camões, Pessoa, etc, outro. E o facto de eu ter escrito alguns livros, editados na Dom Quixote ou na Sextante entre outras editoras (Quasi incluída), ser colaborador da LER e de outras revistas, ter co-organizado a maior antologia de poesia portuguesa, Poemas Portugueses, ter dois romances publicados numa das maiores editoras brasileiras - a Record - ter sido capa do suplemento literário do Jornal do Brasil ou ter tido críticas positivas ao que escrevo na Visão, no JL, no Público, no Expresso, no DN etc e tal, não me faz merecer uma citação como, sequer, autor famalicence.

É porque pelos vistos, longe da vista, longe de uma "análise sobre a criatividade literária em V. N. de Famalicão" feita de forma competente. Paciência. A partir de agora talvez seja altura de começar a colocar "Jorge Reis-Sá nasceu em 1977" sem dizer bem o lugar. Pelos vistos, não vale muito a pena ter nascido e vivido lá até aos 33 anos. Não tem mal: aqui em Lisboa o tempo é outro, mais sol, menos chuva, menos frio. E o Ruy Belo, esse, como sempre, tem toda a razão: "o tempo é outro tempo nas terras pequenas".

PS: escusado será dizer que uma análise à possível existência de uma literatura famalicense só porque há gente que tenha nascido lá - sem sequer se analisar se o que escrevem tem alguma coisa a ver com a povoação - é tão provinciano como o post que escrevi. Mas já me fazia falta ser publicamente provinciano outra vez.



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