Acabei de descobrir como não ser, digamos, importunado. Basta que nos façamos de presunçosos (E fico muito feliz que ele ache isso e me tenha citado, como vou ficar feliz pela quantidade de comentários e de textos em blogues que esta crónica vai provocar – é sinal que estou a fazer bem o meu trabalho.) e o pessoal que poderia, digamos, importunar pensa para ele mesmo: "só para te chatear, não digo nada". Tenho pena. Bem mais do que a crónica anterior sobre o surrealismo, esta queria mesmo lançar o debate. Mas, enfim, as pessoas lá saberão da importância relativa dos assuntos.
Ao segundo sete do terceiro minuto, novamente ao segundo cinquenta e quatro do quinto minuto, há a frase perfeita. Sempre que a ouço é como se por dentro da pele algo se apaziguasse como deve. Uma serenidade, um pedaço de Deus que se nos apresenta como se existisse. É do álbum After Virtue, de 1988, a primeira faixa, Justice. Na sétima música, se não estou em erro, ela volta e close cover.
Acabei de ver na RTP2 o que julgo ser a quarta ou quinta temporada do Weeds. E, ainda para mais depois do post anterior, tenho a certeza de que, no meio do tanto que se faz na televisão, o primeiro elemento que constrói ou destrói um episódio e ou uma série é o argumento. Sem estar bem escrito, meus caros, podemos ter todos a melhor ideia do mundo, mas não sairemos nunca da cepa torta (é assim que se escreve?).
Antes de ontem tinha visto na Fox o primeiro episódio da primeira temporada de uma coisa chamada The Forgotten com o Christian Slater. No fim vi que era produzido pelo mago Bruckeneimer e tudo (é assim que se escreve?). Mas percebi dois erros no argumento, além de vero fim a meio do episódio. E eu não percebo nada de televisão e de argumento sei quase só o bê à bá (é assim que se escreve?).
Exemplos de grandes argumentos? Six Feet Under; The Unit; Californication; Weeds. Os dois últimos não sei quem escreveu e, mais importante, sempre, criou e supervisiona. Mas os dois primeiros: Alan Ball e David Mamet. E estamos conversados.
Confesso que comecei a ver a série, seguindo até com algum interesse a primeira temporada. Embora a tenha sentido sempre com um erro de casting brutal, confirmado posteriormente numa pesquisa rápida na world wide web: a Grey que a nomeia é velha demais para a personagem que interpreta. Adiante.
Mas aquilo tornou-se uma coisa sem rei nem roque. Já se fez um spin-off, a Clínica Privada, que só é melhor porque levou esta lindíssima mulher que achei por bem colocar em cima para embelezar um bocadinho este blogue. (Mas, claro, outro erro de casting com aquele pediatra - acho - que tentam despentear para ficar muito casual e muito giro: é feio que dói.) Mas dizia da Anatomia: o que mais irrita num episódio qualquer é que se nota que a Criadora e os seus súbditos argumentistas, depois de já terem ido para cama uns com os outros, têm de inventar personagens que permitam novas combinações. E combinam e não é pouco: é uma telenovela mexicana no seu melhor.
Melhor, no seu pior: a telenovela mexicana baseia-se em diálogos, como todas as telenovelas, e não está para músicas delicododes estendidas até ao limite. O que mais me irrita na Anatomia de Grey é aquela coisa de em cada episódio se salvar o Mundo da Fome, se pensar nos mortos no Sudão, no furacão Katrina ou no Haiti. É certo que não parece, porque é tudo muito interior, digamos. Mas é disso que se trata: de querer em cada episódio merdoso falar sempre dos grandes assuntos.
E como? Pois bem: nada como uma voz omnisciente que vai rodando - como os casais - de episódio em episódio, a debitar novas máximas sobre a Vida, a Medicina, a Humanidade ou a Pilinha do McDreamy. Sempre em maiúsculas, claro. E, sempre - mas sempre, mesmo - ao som de uma música inicial (duas, três...) e de uma música final (duas, três...).
A Anatomia de Grey é o oposto do ER, e por isso tão mau. No segundo tudo era acção. Na Anatomia, cada episódio tem três tempos - dividem-se os 40 minutos em 15 de entrada, 15 de saída e, vá lá, 10 de acção. Quando damos por ela, já vão 15 minutos de episódio e eles ainda não introduziram merda nenhuma - tirando três músicas do Damien Rice. Depois lá vemos uma cirurgia qualquer com muitos pis, pis, pis e um ufa, está quase safo. Mas eis que ainda faltam 15 minutos para acabar o programa e volta o Damien Rice (às vezes os Coldplay) a cantar mais uma xaropada e nós, finalmente, morremos de tédio depois de percebermos qual a Lição Para a Vida que a Criadora da Anatomia nos quer ensinar.
E como é que se chama o pai?
Pai Reis Sá.
Aqui deixo, excepcionalmente, o início da crónica deste mês do Pnetliteratura. Raios partam, agora é que nunca mais tenho uma crítica positiva no Actual...
Gostei muito do Ao pé da letra do Expresso desta semana. Há muitos meses que leio aqueles aforismos crípticos do António Guerreiro como o que de melhor se faz na escrita de humor em Portugal. Até não entendo, sinceramente, como é que o António ainda não está a trabalhar nas Produções Fictícias.
Gostei porque, pela primeira vez - e sem entrevista na LER - me sinto no "Olimpo do Grande Escritor": fui citado pelo António na sua rubrica! Só tenho pena é que um humorista de tão grande craveira não entenda o que é a ironia. Mas enfim, não se pode ter tudo.
Quanto à etologia: tirei 12. Era uma seca monumental, baseada em contagens estatísticas de groomings de macacos ou sons de gaivotas. Quem percebe alguma coisa de biologia, sabe que a etologia está já um bocadinho desactualizada, que a coisa se baseia muito em ultra-adaptacionismos que o estudo da evolução já ultrapassou há muito. Mas, sendo como é um crítico de renome e um grande humorista, não se pode pedir ao António Guerreiro que perceba alguma coisa de etologia. Eu, como só tirei 12, percebo pouco. Graças a Deus.
Acabei de saber, pelo Francisco, da morte da Isabel Sousa. Perde-se uma das melhores bibliotecárias do país. Ela e Ana Luísa Ramos fizeram um trabalho de excepção, cada uma na(s) sua(s) casa(s) dos livros.
Conheci-a quando convidou as Quasi para se associarem à Poesia à Mesa, em São João da Madeira. Fizemos um livro em conjunto, levamos lá autores, estivemos presentes (lembro uma sessão admirável com o António Ramos Rosa). Pelo bem público, em parceria desempoeirada com os privados. Sem aquela forma de estar tão políticó-portuguesa de que devem ser os privados a financiar o bem público. (Mas disto falarei noutro post.) Era uma mulher que mexia, que bulia. E já há tão pouca gente neste país com vontade de bulir.
Este conto, de entre tudo o que escrevi, está entre os textos de que mais gosto. Foi umas das minhas primeiras incursões na prosa. Saiu na tristemente já desaparecida Magazine Artes e depois deu título ao livro de contos que editei na Sextante. Julgo fazer todo o sentido, hoje, colocá-lo aqui. O final faz-me sempre lembrar o meu pai a entrar na cozinha dos meus avós em Ribeirão.
Terra
Há uma porta que encerra a luz no exterior. E eu entro pela porta entrando na escuridão e abrindo muito os olhos com toda a vontade que tenho de ver. A escuridão tapa-me os olhos e eu aguardo que, um dia, um milagre me deixe sentir no fundo do olhar mais do que estas sombras difusas, mais do que este negrume imenso. E eu entro e entrego a minha alma à luz. Entro com o corpo, só. A alma vive de luz e eu, de qualquer maneira, não necessito dela para onde sigo. Ouço o José, que me acompanha os passos, depois de deixar a alma dele lá fora. Ouço-o dizendo
– Despacha-te, homem.
sempre que o meu andar não obedece às ordens que lhe dou, sempre que o meu andar espera mais um pouco que a alma lhe dê o seu último ânimo.
O José entra atrás de mim, diz
– Despacha-te, homem.
porque o seu vagar ainda tem a luz que, timidamente, consegue entrar no elevador da mina. É uma luz ténue mas que ainda o abraça. Já eu sou muito mais a escuridão que nos irá envolver.
Descemos ao túnel e levamos a vida connosco. Levamos o ar e o sol, a minha mulher, os meus filhos, a mulher dele, o filho às vezes e as árvores. Levamos no retrato que ambos beijamos duas vezes e na cruz em que nos benzemos sempre que entramos. Levamos Deus connosco porque a terra é funda, o céu fica longe. Pensamos às vezes como seria se um de nós morresse enfiado naquele buraco onde passamos os dias, os nossos dias que são sempre noite. Penso sempre: como seria?, estaria Deus disposto a descer àquele inferno para me ir buscar? Um dia perguntei ao José
– Homem, achas que se eu morresse na mina ia para o céu?
estávamos já na mina, naquele carreiro muito escuro que é o túnel, e ele não disse nada. Eu perguntei outra vez, pensando que ele não tinha ouvido por causa do som que a sua picareta fazia, faz sempre, arrastando-se naquela terra que, mesmo já cá no fundo, ainda tenta ver alguma luz
– Homem, achas que se eu morresse na mina ia para o céu?
e ele voltou a não responder. O José não respondeu porque tem um filho que saiu de casa sem lhe pedir a bênção. Ainda hoje, já meses depois dessa pergunta, quando entro na mina com a vida que levo comigo e o José sem o filho que se foi embora, eu penso que ele não respondeu por causa do rapaz.
O filho do José era da idade do meu mais velho. Brincavam juntos em crianças, atirando a terra ao ar e esperando que ela, pelo brilho que os raios de sol lhe dava, caísse em cores e poeira de ouro. Chamavam-lhe ambos as pedras que os nossos pais vão buscar para nós comermos, o raio dos moços. Chamavam-lhe a infância naqueles saltos e naqueles sorrisos, o pó e a terra como um sustento.
Caminharam ambos para a escola, conheceram as primeiras cachopas, enamoraram-se, zangaram-se, fizeram as pazes e pediram para ser como nós. Eu e o José sorríamos pelo exemplo que lhes dávamos e chorávamos muito por saber que o destino dos rapazes havia de ser mesmo esse. Falávamos, como falamos sempre, enquanto o elevador nos leva para aquele inferno, ou à entrada do túnel, onde a terra ainda tenta ver alguma luz, da alegria que era os moços serem como nós e da tristeza de um dia os sabermos falarem na escuridão que era tanto a nossa. Mas era o destino, não havia como. E um destino é uma coisa de Deus, já dizia o senhor padre na missa de domingo. Haviam de ser como nós, de ter mulheres como nós e filhos como nós. De ser felizes na escuridão mesmo que o céu ficasse um pouco mais longe.
Mas um dia o José chegou com o fogo nas ventas a minha casa. Expelia o diabo pelo corpo, tão fora de si estava. Dizia-me a sofrer que o filho se tinha ido embora e que o meu teria culpa nisso. Eu chamei o meu moço e perguntei-lhe uma vez
– Moço, que sabes tu disto?
e ele nada. Como se a picareta do José estivesse a arrastar pelo chão do túnel, parecia não ouvir. Eu perguntei outra vez
– Moço, que sabes tu disto?
já depois de lhe fazer lembrar que era seu pai, pegando no cinto com força e lembrando-lhe muitas vezes, tantas quantas o dito cinto lhe tocou no corpo. Ele chorava, e eu voltava a perguntar com a voz e com as mãos. E ele chorava, e eu perguntava. E ele dizia
– Pai, o filho do senhor José, não sei dele.
como se lhe não soubesse o nome, como se fosse o José quem me fazia perguntar ao meu filho com a voz e com as mãos. Disse muitas vezes
– Pai, o filho do senhor José, não sei dele.
tantas quantas o cinto lhe tocou no corpo. E foi quando já o seu corpo parecia não aguentar mais a minha voz que me falou
– Pai, ele quis fugir, disse que a terra era feita de pó, e não de ouro, que o ouro que via quando atirava a terra ao ar e o sol lhe dava era um engano e que não podia viver a vida dele a procurar um engano metido dentro da terra.
e o filho do José tinha mesmo fugido. E eu fui dizê-lo ao José, não sem antes ter sentido mais uma vez a minha voz e o meu cinto no corpo do meu moço. É assim que se aprende a não guardar a verdade, já dizia o meu pai.
Disse ao José o que ele já sabia. O meu moço, esse, só sabia da terra e do sol e do ouro mas nada do verdadeiro porquê da fuga ou de para onde tinha sido. O José continuava com o diabo a sair-lhe do corpo, com ele fora de si como se de um diabo só se tratasse. Estava capaz de maltratar Deus, se ele lhe aparecesse à frente. Felizmente não apareceu – eu quero ir para o céu com o meu amigo José, e se ele maltratasse Deus ainda ia para o inferno com ele e nós já estamos há muito tempo juntos a trabalhar na mina.
O José saiu de casa com a resignação que lhe consegui dar. Disse-lhe para não se preocupar, que era coisa de criança, que o filho havia de voltar e que depois lhe poderia mostrar com o seu cinto como se tinha sentido na sua falta. Tendo-o acalmado um pouco, fui mostrar ao meu que isso não se faz, precavendo qualquer falta em adiantado.
Os meses passaram e os anos foram muitos meses. Até que um dia o José recebeu pelo encarregado da mina uma carta que tinha um barco e um mar. Vinha destinada a ele e assinada pelo seu filho. A carta dizia assim, como se fosse o filho do José a dizer ao José
– Pai, estou mesmo feliz. Tenho uma terra como a tua, só que é feita de água. Descobri que o ouro que procuras também está na água, e que lá há luz e não há escuridão. Que posso ser um bocadinho tu sempre que entro na água e levo comigo uma picareta, uma lâmpada – como tu, porque não há escuridão mas vê-se mal – e mais coisas, que lá em baixo não há ar. Na mina há ar, pai. Mas não há peixes, pai, peixes que riem para ti quando os caças, coisas velhas que apanhas do chão do mar com uma picareta e que são ouro para quem, como o encarregado da mina a ti, me dá o sustento. Pai, eu estou mesmo feliz, e espero que estejas feliz por mim.
mas não estava. O filho estava feliz, mas longe. E podia ter uma picareta mas não tinha a escuridão para aprender a usá-la só com a lâmpada que da cabeça nos cai. E podia ter o ouro dele mas o ouro dele não era ouro, eram coisas velhas que apanhava do chão e que outros chamavam de ouro. E podia ter terra, mas era água.
O José entrou na mina, desceu o elevador, arrastou-se no túnel, magoado. E, enquanto procurava com a sua picareta o que lhe encomendava o encarregado da mina, enquanto procurava em silêncio comigo ao seu lado procurando o que a mim tinham encomendado, o José continuava triste. Na mina, lá no fundo, quando o inferno é muito quente como só o inferno pode ser e o céu é muito longe, nós trabalhamos sempre com o silêncio junto a nós. Procuramos muito que ele fique sempre connosco, fechando as bocas, pensando nas almas que deixámos lá fora. Mas o silêncio foge em cada golpe que a nossa picareta dá na terra dura que há no fundo da mina e que é já rocha. Mas nós procuramos ainda mais, ficando cada vez mais calados, pensando na alma que ficou lá fora e naquilo que trouxemos para dentro, seja o ar e o sol, a minha mulher, os meus filhos, a mulher dele, o filho – às vezes, só às vezes – e as árvores. Ou no retrato que ambos beijamos duas vezes. Ou na cruz em que nos benzemos.
No dia seguinte à carta, a picareta do José não roçou o chão da poeira do túnel. Ele levantou-a e disse-me que não tinha filho, que aquilo que tinha nascido da mulher dele não tinha nunca existido. Eu perguntei-lhe
– Porquê, homem? Porque matas assim o teu filho? Ele afinal está feliz, não queres ver o teu filho feliz, homem?
e estava, e estava feliz, ou pelo menos assim o fazia notar na carta que enviou e que o José leu como se fosse o filho a falar e a dizer
– Pai, estou mesmo feliz.
dizia lá. O José não respondeu, talvez porque a picareta lhe tenha caído para o chão e começado a roçar a terra e por isso tenha reparado que eu não ouviria a resposta ou então porque a atirou ele. Fiz-lhe esta pergunta durante muitos dias, tantos que até foram dias que foram semanas. E só quando ele teve força para segurar outra vez a picareta é que me disse
– Porque fugiu sem a bênção que lhe queria dar e está à procura de ouro onde não há. Ninguém pode ser feliz procurando aquilo que não existe.
e não pode, nisso tinha o José razão. Eu não respondi, a força do José aguentou pouco a picareta e ela voltou a roçar o chão do túnel.
Meses depois o José recebeu outra carta. O encarregado da mina, antes de entrarmos, voltou a chamar o José
– José.
e ele voltou a ter de ir buscar a carta. A desconfiança com que pegara na primeira deu lugar à amargura com que se afastou de mim para ir buscar a segunda. Pegou nela sem um sorriso – não que o José seja um homem de sorrisos, mas a força com que o não tinha não dava azo a qualquer dúvida – e abriu-a. A carta vinha também com um barco e um mar nela e endereçada ao José, mas faltava-lhe a assinatura do filho. O José ficou parado, a entender como duas cartas com o mesmo barco e o mesmo mar podiam vir para ele e só uma trazer o nome do filho. Leu-a já a pensar que era outra pessoa a ler para ele, a dizer
– Senhor José, o seu filho que se dizia feliz morreu. Temos muita pena em dizê-lo mas a verdade é esta e nós não temos como mentir-lhe. Também não temos o corpo que era o dele para lhe dar e enterrar onde quiser porque desapareceu na água. Um dia desceu mais fundo do que devia, com a picareta às costas, uma lâmpada – como o senhor José, porque não há escuridão na água mas vê-se mal – e mais coisas, que lá em baixo não há ar. Disse-nos que queria encontrar todo o ouro que conseguisse, as coisas todas que nós lhe pedíramos porque esse era o seu ofício e tinha de ser bom nele. Correu mal a viagem ao seu filho, senhor José, que não voltou do encontro, se o teve. Desculpe lá, mas a vida é assim, só com a morte existe e o seu filho viveu porque morreu. Pelo menos feliz, dizia ele. Sentidos pêsames.
e assinavam algumas pessoas por baixo do nome delas: encarregado, encarregado do encarregado, até o encarregado do encarregado do encarregado assinava. E nós nem sabíamos que havia minas que podiam ter um. Também não conhecíamos as minas de água onde o filho do José era feliz, isso era certo.
E o José entristeceu outra vez. O filho que ele não tinha acabava de morrer. Ou pelo menos assim o dizia o papel. Podia ter morrido há mais tempo, que escrever uma carta, dar a assinar a tantos encarregados e colocá-la nas mãos de um pai demora o seu tempo, mas o José só soube quando a leu e só aí viu o fim do filho na mina de água que era a sua.
O José arrastou a picareta pelo chão meses, tantos meses que foram anos. O meu moço mais velho começou finalmente a acompanhar-nos e o José a chorar em silêncio sempre que o via sozinho, sem a companhia do filho que se tinha ido embora sem a bênção de um pai. Fizemos os três o caminho muitas vezes, descendo o elevador, pelo túnel até ao inferno que é esta mina, desde o sol e da alma que o meu filho também aprendeu a deixar à entrada. Fizemos o caminho e continuámos à procura das coisas que nos encomendavam.
Um dia o José bateu com muita força na terra, tão dura que já era rocha, e abriu-lhe um sulco. Do outro lado do sulco o José viu uma câmara enorme onde cabiam muitos de nós e nela um pequeno rio que corria sobre a terra, límpido, tão límpido que, pensei eu, se alguém ali quisesse nadar não precisava de levar a lâmpada que nos cai da cabeça porque não existia escuridão dentro dele. Ficámos muito admirados, eu e o meu filho, pela descoberta que o José tinha feito. Não era o ouro que nos encomendavam mas era um rio de água limpa a correr no meio de uma câmara enorme. E isso nunca ninguém tinha visto. É certo que tinham falado da água que podia correr em câmaras grandes no meio da terra funda e nós sabíamos que existia. Mas a surpresa não deixou de ser tão grande como a câmara onde cabiam muitos de nós. O rio vinha de longe, aos nossos pés, e passava por nós desde uma fenda também grande na terra até outra grande como a primeira onde desaparecia. Eram fendas grandes também, mas onde só aquele rio acabava cabendo.
O rio passou a ser um sítio onde os outros mineiros vinham lavar um pouco as mãos da terra que não era tão dura como a rocha e que por isso os sujava. A picareta bate com força na terra que já é rocha e faz dela outra mais mole, que nos entra dentro dos olhos e dos dedos e nos faz sentir com os olhos e com os dedos que o mundo é todo feito de terra. Com a descoberta do José, eu, o meu filho e os outros mineiros, pudemos ver no meio da terra alguma água que nos lavava, por vezes o próprio espírito que tinha ficado à entrada, ao sol, entregue à luz.
E o José batia com a picareta nas imediações do rio. Ele não sorria muito, o José, mas, notava eu, por vezes havia como que um esgar que lhe batia no rosto, da mesma forma que a nossa picareta bate onde queremos que bata. Perguntei-lhe, num outro dia e quando lhe vi esse esgar de um sorriso à entrada do túnel
– Estás mais feliz, homem. Que se passa? É o rio que descobriste que te lava a cabeça das tristezas da vida?
e o José, mesmo com a picareta dele a roçar o chão e todo o silêncio tão longe porque a picareta não a levantou ele, respondeu baixinho
– Vi o meu filho, homem. Um dia olhei o rio e ele veio à tona da água e olhou a sorrir para mim. Depois as horas passaram muito e foram outro dia e eu vi-o outra vez a olhar para mim e a sorrir. O meu filho descobriu a terra e há-de vir ter comigo pelo meio dela. O meu filho entrou pela terra dentro e agora é parte dela. O meu filho um dia há-de dizer-me o que deve.
e eu não pude deixar de sorrir também. Disse-lhe, com alguma tristeza
– José, homem, bem sabes que a morte não traz ninguém de volta, bem sabes que as pessoas quando morrem são sempre levadas para Nosso Senhor, já diz o senhor padre, e não voltam mais.
mas ele já não ouviu. A picareta começava novamente a roçar como sempre fizera o chão e o José a viver na ilusão de um dia ver o filho a dizer-lhe o que devia.
Passou-se mais tempo, dias que foram semanas, semanas que foram meses. Eu, perguntei-lhe se quando morresse havia de ir para o céu e o José não me respondeu. Desde que disse que havia de esperar o filho dizer-lhe fosse o que fosse que nunca lhe há-de dizer, que me não respondeu a nada que lhe perguntasse. O silêncio era grande, mesmo com o som da picareta arrastando pela poeira da terra que ainda vê alguma luz.
Até que um dia o José parou a picareta na rocha depois de uma pancada ainda mais forte do que aquela com que descobriu o rio. Quando ouvi o silêncio que a falta da picareta do José fez, a bater na rocha ao ritmo que nos encomendavam, voltei-me para ele, parei o meu filho e vi-o a sorrir, feliz.
O José era finalmente feliz. Porque tinha visto água a jorrar num fio, como nunca nenhum de nós tinha visto, da terra que de tão dura já era rocha. O José tinha descoberto o rio, mas o rio vinha de longe e era numa câmara grande e vinha de uma fenda grande e ia-se noutra fenda também grande. Aquele fio de água que jorrava da rocha não tinha de onde vir e existia. O José voltou-se a rir muito e disse
– Vê, homem, podes morrer na mina, que é no meio da terra que está o nosso céu.
porque no meio da terra, descendo pela terra que de tão dura já era rocha, estava desenhado um rosto. O rosto do filho do José que, como ele tinha dito e eu não acreditara, era feito de terra e pelo meio da terra tinha chegado ao José. E que repetia, alto, tão alto que até nossas almas entregues à luz à entrada da mina ouviam
– A sua bênção, meu pai.
Hoje na TSF ouvi a senhora do PC (perdão, dos Verdes) a dizer algo de muito interessante: Queremos ver na constituição a salvaguarda ao combate das alterações climática e da biodiversidade. Acho bem. Combater a biodiversidade é algo me deixa muito próximo dos Verdes. A minha posição sobre o assunto até é pública. Viva o PC! (Perdão, os Verdes.)
Depois de uma visita de estudo da turma do colégio ao CCB, com o respectivo piquenique: Pai, não gosto de croissants. Só gosto do que gosto.
Sobre aquela Pessoa no Chiado: Pai, o senhor Fernando ficou tanto tempo à espera que ficou pedra.
Antes de deitar: Pai, traz o sumo para a cabeça de cabeceira.
No Terreiro do Paço há uma instalação da Joana Vasconcelos. É uma piscina daquelas que se compram na berma da estrada, azul, claro, feita de plástico. Está ao alto, presumo que a celebrar a República. Mas o que a torna interessante é ter a forma de Portugal.
Minto. O que verdadeiramente a torna interessante é ter profundidade.
Agrada-me a metáfora, que imagino ter sido aquilo em que inspirou Joana Vasconcelos para esta instalação: num país a ir ao fundo, porque não indicar qual a profundidade máxima? E, acreditem, se fizermos uma regra de três simples, ainda estamos a falar em algumas centenas de quilómetros...
A pergunta que fica é: quem deixa de meter água em Portugal?
Conheço melhor o ensaio de Vargas Llosa do que a ficção. Nas Quasi editei em 2007 Diário do Iraque e Israel Palestina - Paz ou Guerra Santa. Infelizmente, as vendas foram residuais. Dois belíssimos livros, com fotografias da sua filha Morgana Vargas Llosa e que faziam parte do projecto de, na colecção Primeiras Pessoas, editar não-ficção de referência. A Verbo possibilita-me isso, agora. Tenho a certeza que editarei no próximo ano bons títulos de não-ficção.
Tenho pena, não há outro termo senão este, de saber num armazém de Famalicão, e impossibilitados de serem comercializados neste momento, os dois livros. O mesmo aconteceu com o Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen ao Manoel de Barros e o Prémio Camões ao Ferreira Gullar. Erros meus, má fortuna... Não consigo deixar de pensar que se não fossem os erros meus poderia nesta altura estar a reimprimir os dois livros - na Babel, no melhor dos sonhos. Mas enfim, fica a consolação de os ter publicado. Espero - e no que diz respeito à Verbo, tentaremos que isso aconteça, posso prometê-lo - que se não esqueçam de dar destaque à não-ficção do Nobel de 2010.
Se há um programa que não aprecio é aquele onde durante uma hora ou hora e meia se debate não futebol mas a arbitragem. Digamos que existem níveis de interesse em relação ao desporto que são, para mim, directamente proporcionais com o interesse do programa. No topo está o programa que o Carlos Daniel moderou durante o Mundial (À Noite, o Mundial), onde ele - um profundo conhecedor de futebol - o Carlos Carvalhal - que muito me surpreendeu, e pela positiva - e o Luís Freitas Lobo - que sabe qual o jogador que está a aparecer com dezoito anos na terceira divisão do campeonato boliviano e que certamente daqui a dois anos está num clube europeu (não resisto em lembrar que o Özil, que está no Real Madrid, foi, no primeiro programa, citado por ele como podendo vir a ser a grande revelação do Mundial - e foi) - onde eles, dizia, falavam de futebol a sério como se fosse - e é - um desporto com tácticas, regras, especificidades: no fundo, como se fosse necessário estudar para se saber alguma coisa - e é. Agora, com sinceridade, não sei qual o programa que substitiu este, embora tenha percebido que já não é o Carlos Daniel o moderador (acho). A seguir temos o Bruno Prata e o João Gobern. Gosto muito dos comentários do Bruno Prata; gosto menos dos do João Gobern. De seguida o que junta o Trio de Ataque porque, por vezes, ainda falam de futebol - mas este já leva um suficiente, um três à rasquinha, muitas vezes um dois mais. E depois, com um dois a puxar muito para baixo, o Prolongamento e o inefável O Dia Seguinte. Aqui não há futebol, só à a direcção da Liga, o Conselho de Disciplina não sei de onde, a Comissão de Arbitragem etc e tal. Passam uma hora e meia a debater se aquele lance deve ser para amarelo, vermelho ou azul às pintas. (Aqui não coloco o Rui Santos porque, pura e simplesmente, não compreendo os seus comentários. Aquilo está a um nível tão baixo que o som deve fazer ricochete no meu martelo do tímpano e não me permite a compreensão.)
Mas tudo isto para dizer que segunda-feira vi quase todo o Prolongamento, na TVI. Isto porque, como todos, quis saber qual o raio do penalty que o Villas-Boas dizia existir (e que não existiu). Entretanto, enquanto fazia não sei o quê, fui assistindo às análises do ex-árbitro Pedro Henriques sobre os "lances polémicos". O Pedro Henriques tem o cuidado de dizer a lei do jogo quando ajuíza sobre o trabalho dos colegas, o que ajuda. Mas era preciso é que ajuizasses bem, tendo em consideração a mesma lei. Não o faz. Mas isso interessa-me pouco. O que me interessa é um episódio que merece ser destacado. Vamos a ele.
Os três comentadores residentes são o Francisco José Viegas (acho que veio substituir o Pôncio Monteiro), o Fernando Seara, que só fala por código acerca de nunca se sabe bem o quê, e o desassombrado do Eduardo Barroso que me parece mais, digamos, equilibrado nos comentários (embora, ao lado do Fernando Seara até uma pirâmide invertida parecesse equilibrada...). Foi entre este último e o Pedro Henriques que se passou um dos episódios que mais me fez rir nos últimos tempos na televisão. A certa altura, há uma entrada do Fucille sobre um jogador do Guimarães, que lhe dá o primeiro amarelo. O Pedro Henriques diz que sim senhor, é para amarelo, mas que também poderia não ser, já que ele não entra ao calcanhar. O Eduardo Barroso interrompe-o desde o estúdio do Porto, onde estava, para dizer que aquela entrada é para amarelo claríssimo, se não for mesmo para vermelho, porque lhe toca mesmo no calcanhar. Trinta segundos de discussão, até que o Pedro Henriques sai com esta: "Ó Dr. Eduardo Barroso, eu tive 35 horas de formação em Anatomia Fisiológica e aquilo não é o calcanhar". O Eduardo Barroso disse o que tinha a dizer: "Tem razão, eu sou só cirurgião..."
Depois era vê-los sempre à, enfim, porrada por tudo e por nada. Mas este momento é de antologia. Mais um momento alto num programa onde o futebol não é bem o tema - é mais o pretexto.
Ora aqui está um excelente exemplo: presidente da Bolívia agride adversário durante um jogo de futebol amigável.
Podem ir logo ter ao último parágrafo, se quiserem. Mas não faz mal a ninguém aprender - como eu aprendi - que existe o grafeno. Retirado do Público.
"Imaginemos o traço deixado por um lápis numa folha de papel. Se lhe passarmos a mão por cima, facilmente se esborrata. Acabámos de espalhar no papel várias camadas de grafite, a forma de carbono de que são feitos os vulgares bicos dos lápis. Mas se continuássemos a esborratar o traço a lápis, talvez acabássemos por ter uma única camada de átomos e, então, estaríamos na presença de uma nova forma de carbono — o grafeno.
Foi mais ou menos isto que fizeram dois cientistas, nascidos na Rússia mas a trabalhar no Reino Unido, na Universidade de Manchester, e que resultou na descoberta do grafeno. Até 2004, não passava de uma hipótese, com décadas de especulação. Nesse ano, em Outubro, Andre Geim e Konstantin Novoselov publicaram na revista Science o artigo em que anunciaram a existência real do grafeno e lançaram o entusiasmo na comunidade científica mundial, devido a uma variedade de possíveis aplicações, desde a criação de novos materiais até ao fabrico de electrónica inovadora.
Só que, em vez de espalharem o traço a lápis, Geim e Novoselov utilizaram uma fita adesiva para retirar pequenos fragmentos de um grande pedaço de grafite. No início, os fragmentos retirados tinham muitas camadas de grafite, mas à medida que repetiam o processo, iam-se tornando cada vez mais fininhos. Era a altura de procurar esses fragmentos de grafeno entre as camadas de grafite extraídas.
Tiveram ainda de encontrar uma maneira para que o grafeno saísse do seu anonimato, camuflado entre a grafite, e se desse a ver no microscópio. E o que surgiu foi um material bidimensional (com comprimento e largura apenas, pelo que é plano), quase transparente e que existe à temperatura ambiente.
Esta forma plana de carbono, com a espessura de um único átomo, apresenta-se com o padrão básico do favo de mel, pelo que é ainda composta por seis átomos de carbono ligados entre si. E esses seis átomos ligam-se a outros e a outros, formando uma rede de milhões e milhões de átomos do material que é o grafeno.
Hoje, esta descoberta valeu a Geim, de 51 anos, naturalizado holandês, e Novoselov, de apenas 36 e nacionalidade russa e britânica, o Nobel da Física, no valor de dez milhões de coroas suecas (um milhão de euros). No seu comunicado, a Real Academia das Ciências Sueca justifica a atribuição aos dois físicos “pelas experiências pioneiras sobre o material bidimensional grafeno”.
Aprisionado dentro da grafite, o grafeno só estava à espera de ser libertado, sublinha a informação divulgada pela academia sueca. “Ninguém pensava que tal fosse realmente possível”, lê-se. Muitos cientistas consideravam impossível isolar materiais tão finos, que ficariam instáveis, por exemplo enrolar-se-iam à temperatura ambiente ou desapareceriam.
O novo material libertado não é só o mais fino de todos, é também o melhor condutor de calor. E como condutor de electricidade, é tão bom como o cobre: se for misturado com plástico, pode resistir mais ao calor e ser robusto do ponto de vista mecânico. Também é leve e elástico, podendo ser esticado até 20 por cento do seu tamanho original.
Por todas as suas características, pensa-se que pode vir a permitir o fabrico de novos transístores, mais rápidos do que os actuais de silício, que resultarão em computadores mais eficientes. Ou em novos super-materiais, que os futuros satélites, aviões ou carros incorporarão. Ou em novos ecrãs de cristais líquidos tácteis.
“Estou em estado de choque”, reagiu Novoselov, após um silêncio. “É uma loucura.” Também Geim foi apanhado de surpresa: respondia a e-mails e lia papeladas quando o telefone tocou. “Estou bem, dormi bem, não esperava o Nobel este ano”, declarou depois. “Os meus planos para hoje? Voltar ao trabalho”, garantiu Geim, citado pela AFP. “Há duas categorias de laureados dos Nobel: aqueles que deixam de fazer o que quer que seja até ao fim da vida, o que é um mau serviço à comunidade. E aqueles que pensam que as outras pessoas vão pensar que ganharam por acaso e começam a trabalhar ainda mais.”
Em conjunto, esta dupla trabalha há bastante tempo. Novoselov foi fazer o doutoramento com Geim, na Holanda, e depois seguiu-o para o Reino Unido. Com a física, os dois têm-se divertido, ou não tivessem criado há sete anos uma fita super-adesiva inspirada nas patas das osgas. Antes disso, em 1997, Geim fez levitar uma rã num campo magnético, para ilustrar os princípios da física. Ora, em 2000, a rã que levitava valeu-lhe um IgNobel, prémios para a ciência divertida e inacreditável, “por fazer as pessoas rir primeiro e pensar depois”."
Vale o que vale, mas fico muito contente de ver, via booktailors, o top de ficção da Almedina assim:
1 Livro, de José Luís Peixoto (Quetzal)
2 O Bom Inverno, de João Tordo (Dom Quixote)
Hoje, quando fui convidado da Prova Oral do Alvim e da Rita, perguntaram-me dos livros e das edições. Disse que já havia gente e viver dos livros, à séria, sem o discurso do coitadinho do escritor que anda sempre a cravar cigarros porque não tem dinheiro sequer para um maço de tabaco. Talvez devido à tal serendipidade, os nomes que citei foram exactamente os do João Tordo e do José Luís Peixoto. Que bom que no top da ficção estejam dois autores portugueses, da minha geração, com livros que sei bons porque sei quem editou um e outro. Parabéns aos dois. Quer dizer: aos quatro.
A Guerra das Rosas, com letra de Manuela de Freitas e música de José Mário Branco. Há muito tempo que uma música não me fazia rir tanto. A parte do livro e do editor são imperdíveis. Grande, grande letra da Manuela de Freitas.
Há pouco, enquanto o meu filho lia um dos livros dos Gormitis na secção dos "livros novos" da Fnac, eu li na diagonal a crítica do António Carlos Cortez à antologia que eu o Rui Lage organizámos para a Porto Editora há um ano, Poemas Portugueses, publicada no novo número da Colóquio/Letras . Como terão reparado, nunca falei sobre qualquer crítica, positiva ou negativa, ao livro. Ele está aí e todas as críticas são pertinentes. Mas desde que:
- se não diga que falta um autor que até nem devia estar (pode parecer paradoxal mas é o que lá se diz) porque cai no arco temporal do projecto quando ele edita o primeiro livro em 2001 (o José Luís Peixoto).
- se não diga que o Paulo Henriques Britto editou na Portugália quando foi na Ulisseia.
- se não diga que falta um poema do António Ramos Rosa (o não posso adiar o coração) quando esse poema, com o primeiro verso como não posso adiar o amor para outro século, está lá. (Mas como li na diagonal não sei se o erro é só de fato ou se é também na citação do primeiro verso, sinceramente.)
- se gaste um parágrafo inteiro e de muitas linhas a dizer os autores brasileiros que deviam estar porque o título, diz-se, é equívoco e deveria permitir a entrada dos brasileiros (porque não lusófonos, já agora?). Eu estou maluco ou uma pessoa portuguesa é uma pessoa de nacionalidade portuguesa? Um poema português não será o mesmo? Quer dizer, um poema francês deve ser diferente de um poema escrito em língua francesa, acho. Mas isto sou só eu.
Quanto ao restante artigo, não encontrei mais erros graves. Embora só o tenha lido na diagonal e nem o tenha aqui comigo. Imagino que o António Carlos Cortez tenha feito o mesmo com a antologia.
Há pouco mais a dizer sobre a Caderneta de Cromos do Nuno Markl que não esteja lá dito. Pelo menos nas partes que li e imagino serem iguais às que ainda não li. A pergunta: porque ainda não li? É aquela coisa de nos irmos oferecendo prazer e riso aos bocadinhos. É um livro maravilhoso, inteligente, divertido e que toca cada um de nós que, como Markl (ainda assim uns 5 anitos mais velho do que eu) passámos felizes os anos 70 e 80. Até que enfim que alguém dá a verdadeira importância ao Agora, Escolha, aos Jogos Sem Fronteiras ou aos Modern Talking. Com o país a afundar, são estas memórias que nos permitem sonhar que nos manteremos a flutuar.
Quero no entanto dizer que, como editor, tenho uma inveja brutal da Objectiva. Não só pela qualidade do livro, mas porque será - digo eu - o livro mais vendido este Natal.