Sejamos claros:
1) Isto foi o que escreveu o Henrique Manuel Bento Fialho: "As epístolas eram um must de bajulice e graxa (lembro esta ou esta), os dois livros de poesia de um sentimentalismo enjoativo, duas ou três crónicas um chorrilho de palermices. Foi tudo o que lhe li." Henrique: tenho quatro livros de poemas, dois romances, uma novela, um livro de contos e dois de crónicas publicados. Mais uns quantos textos dispersos. Falar do que escrevo com a assertividade com que o faz, pondo em causa sequer a possibilidade - eu sei que certamente muito díficil de aceitar - que haja gente que até pense que o que escrevo pode ser publicado em jornais, revistas ou livros parece-me partir de uma amostra pequena para tanta opinião. Eu sei que o Henrique tem (pelo menos) três livros publicados. Nunca li nenhum. Li alguns posts que me pareceram a maior parte das vezes pouco interessantes. Daí a dizer que não compreendo como é que a Ovni ou a Deriva o publicam vai um grande passo. Que não dou.
2) Sobre polémicas e lições: já polemizei o bastante, obrigado. Não dou mais para esse peditório, tenho bem mais do que fazer. Li o seu texto sobre o surrealismo, que pretende, julgo, responder à minha crónica. Muito bem, obrigado. Apenas discuto sobre o que quero e com quem quero. A crónica está lá. Não gostam? Deitem fora. Agora se para além de mim não há quem lhe ligue, Henrique, eu não tenho culpa e não lhe vou ligar por causa disso. Escrevo. O que quero. Não tenho de debater com bloggers - principalmente com aqueles que não considero por aí alem como bloggers - as crónicas ou o que quer que seja que escrevo.
3) "Raio de sina esta que sempre que alguém levanta questões tenha de ouvir-se acusado de presunçoso, mal intencionado, invejoso ou outra coisa qualquer!", escreve. Mas onde? Eu disse que o Henrique era presunçoso, mal intencionado, invejoso ou - esse termo tão claro - "outra coisa qualquer"? O seu texto sobre o surrealismo não tenta ser uma lição? Vejamos como começa: "Afirmar que o Surrealismo é um Experimentalismo automático é um pouco como dizer que o paganismo é um cristianismo sincrético, ou seja, não faz sentido algum. Valerá a pena explicar porquê? O surrealismo, que nunca foi uma só coisa mas várias ao mesmo tempo, não pode ser reduzido à escrita automática. Leiam-se Artaud ou Huidobro, entre outros, para entender (...)" Não sei porquê, mas o tom parece-me muito de alguém a querer ensinar uma coisa...
4) Sobre o comentário anónimo: se acham que estou a mentir, é-me verdadeiramente indiferente. Apenas escrevi que o comentário me tentava defender porque era esse o facto e vinha em clara oposição aos comentários anónimos que tinha aceite publicar. Não preciso, ao contrário do que pelos vistos tantos pensam, que tenham muita pena de mim porque há gente que parece gostar pouco do meu trabalho. Agradeço o cuidado, mas devem achar isso porque os poemas são de um "sentimentalismo enjoativo" e confundem o sujeito poético com o autor.
5) A defesa da honra ofendida do Rui Almeida: disse no post o que estava no comentário, que me pareceu poder acrescentar alguma coisa à questão. Disse o teor do comentário e que era ofensivo para o Rui Almeida. E que por isso mesmo - repito, por isso mesmo - não o aceitei. Deixa-me ver se percebo: não aceito um comentário para não ofender a pessoa; digo o teor do comentário porque me parece interessante; um amigo bem defender o pretenso ofendido, com a "torpe insinuação" que ele é o autor de um blogue anónimo. Mas não fui eu que insinuei, foi o comentário que não aceitei para não o ofender. Talvez não consiga atingir - nas minhas notadas e debatidas limitações intelectuais - o raciocínio. Mas o conhecido princípio intitulado Occam's Razor diz que a explicação mais simples tende a ser a correcta ("a pluridade não deve ser usada sem necessidade") e não sei porquê tenho a sensação que esta explicação para a defesa da honra do Rui Almeida (o facto de não ter aceite o comentário onde se ofende a pessoa, não ofendendo assim a pessoa mas dizendo apenas o seu teor com o único objectivo de o ofender) parece mais complicada do que a minha (não aceitei o comentário para não ofender o Rui, ponto).
6) Eu não sou o mascarilha, e não tenho nada contra o senhor, a senhora, os senhores ou as senhoras que escrevem aquele blogue. Já o disse: acho-lhe graça e tenho pena que não tenha a coragem de dizer quem é (a comparação com o Rogério Casanova deve ser brincadeira, só pode; o Casanova anda a falar muito bem e muito sério brincando muito - o bloque em questão é uma brincadeira, tão-só). Mas fico como sempre honrado e espantado com o incómodo que causo à vida de tanta gente.
7) E, para mim, chega deste assunto. Tenho um romance a meio que quero acabar. Embora tenha pena de já ver limitado o meu potencial leque de leitores a dez milhões menos o Henrique. Mas enfim, não se pode ter tudo.
É interessante como foi um comentário que se pensaria favorável à minha pessoa o primeiro que resolvi censurar. É o primeiro de muitos. A saber: 1) Não colocarei quaisquer comentários de anónimos - quem quer comentar o que quer que seja que faça o favor de agir como gente grande e assine os comentários (sejam contra ou a favor da minha pessoa); o Paulo da Costa Domingos quer dar-me lições sobre o carácter, o Henrique Manuel Bento Fialho quer dar-me lições sobre o surrealismo, mas o PCD e o HMBF assinam as suas lições - por eles tenho pelo menos esse respeito; 2) Não colocarei comentários assinados por quem quer que seja que os assine se os considerar ofensivos para qualquer pessoa. Principalmente para qualquer pessoa que não eu.
O anónimo em questão diz que "toda a gente está careca de saber" que o nosso mascarilha é o Rui Almeida. Não faço ideia, tenho muito cabelo. Depois resolve ofendê-lo como se habituaram tantos a ofender-me desde há anos. Conheço mal o Rui (julgo que terei estado talvez pessoalmente com ele uma única vez - lembro-me do conhecimento quase enciclopédico da poesia portuguesa do século XX que tinha, com uma lista em word de que até julgo ainda ter uma cópia) e não faço ideia se é o mascarilha ou se se dá bem com este, aquele ou aqueloutro. Nem pouco me interessa. Interessa-me apenas que neste meu quintal ainda mando eu. E, quase como na banda desenhada, "tristes não entram".
O Paulo da Costa Domingos teve o cuidado de me lembrar que o seu "elogio narcísico, inexprimível desejo de sucumbir ao poder da escrita" (Isabel de Sá, na "breve apresentação" à antologia lá citada - Palavras) já remonta a 1984. Fica assim em adenda à crónica da LER deste mês que já desde essa altura Paulo da Costa Domingos se propôs a trabalhar "um dos temas maiores da pintura - o auto-retrato. Hoje [1984], nada mais com certeza, e apenas, a presunção de narciso" (citando a sua também breve "abertura"). Tenho o livro na estante, gostei de lembrar que aquilo que dava como novo neste escritor já vem de há quase trinta anos: demonstra coerência no processo criativo. O que tem isso de mau, não entendo. Mas já aprendi há anos: cada um lê o que quer e não o que está lá escrito, mesmo que a crónica deste mês seja apenas um exercício de aproximação de dois estilos nas antípodas um do outro mas que, por uma razão circunstancial (e que bom a vida ser feita da soma de circunstâncias) fizeram o mesmo exercício de "A Escrita".
Não visitava o sítio do João há anos. Literalmente. Pensei que tinha sido descontinuado. Hoje, por razões que só a ausência de qualquer razão conhece, caí lá. Tirando um pequeno e um grande detalhe: 1. sigo talvez uns cinco ou seis blogues, dia sim, dia não, dia não, dia não, dia sim 2. não me comparo ao cronista português que mais admiro (como escritor) e que mais estimo (como amigo) - e posso dizê-lo sem problema algum porque sei que ele não vem cá ler isto. Mas parece que escreveu este texto lá colocado há pouco tempo a pensar nos meus últimos posts, o raio do João. Fica aqui:
Terminam as férias, regresso a este Vale de Lágrimas e alguns amigos perguntam: 'Já leste o que andam a dizer de ti na blogosfera?' Entendo a preocupação deles, coitados. Pena que não possa responder ou corresponder a ela. Não leio blogues. Eu sei que, dito assim, a coisa soa a falso. Quem, em juízo perfeito, não lê blogues?
Resposta possível: quem precisa de cabeça fresca para fazer opinião de forma contínua, semanal e profissional.
Começa por ser uma questão de tempo: há demasiados livros para ler, filmes para ver ou lugares para estar. E, incidentalmente, uma vida para viver. Entendo que o sr. X, todos os dias, emita sentenças primorosas em pijama. E não duvido que a blogosfera, que eu criei um dia (adoro esta), ofereça melhor prosa, em média, do que os órgãos oficiais com os seus plumitivos oficiais. Sem falar dos amigos, dos meus amigos, que escrevem e pensam muitíssimo bem; não lê-los é uma privação dolorosa.
Mas estas benesses são largamente ultrapassadas pela pocilga anónima que, na maioria dos casos, só poderia ser enfrentada com a judiciária e os tribunais. Para quê maçar-me?
Não me maço. Em relação aos amigos, se não os leio, prefiro vê-los e ouvi-los. Ao vivo. À mesa. E sobre os restantes, que não conheço nem quero, evoco um livro primoroso de entrevistas que Woody Allen concedeu a Eric Lax (acho). Diz o primeiro ao segundo (cito de cabeça): "A única regra que devemos seguir é ter prazer no nosso trabalho e não ler o que os outros escrevem a nosso respeito." É uma boa regra. É a única que sigo.
Quanto ao resto, não me cabe ensinar a ninguém os conceitos de ironia, paródia e até sarcasmo, esse parente pobre que às vezes dá para os gastos; não tenciono explicar, por outras palavras, o que gente neandertal não conseguiu perceber à primeira; não dou aulas de borla sobre conceitos como "fascista" ou "reaccionário", mas posso recomendar bibliografia sobre o assunto para futuros alunos; e não estou interessado em "ver as coisas do outro lado", porque sou pago para ver as coisas do meu.
Por último, e sobre os insultos que me relatam, os únicos que incomodam - um incómodo breve, passageiro, como o voo de um moscardo - são aqueles que vêm de pessoas que conheci em tempos e com quem tive um trato, digamos, civilizado. Como é evidente, nem essas merecem resposta; ou sobretudo essas. Quando muito, e para citar o poeta, mereciam apenas uma palmada no sítio onde guardam o carácter e o intelecto.
Tenho pensado longamente nisto. Vou no carro a ouvir a TSF - penso nisto. Estou a ver a SIC Notícias - penso nisto. Leio mais uma página da biografia do António (o Salazar, que a do outro é um manual de auto-ajuda daqueles mesmo fracos) - penso nisto. Porque razão, em 2010, num país livre, onde existe liberdade de expressão e um Estado de Direito que permite a defesa dos ofendidos, porque razão alguém ainda tem um blogue anónimo? Poderia entender - mas mal, confesso - se o blogue fosse muito crítico contra o Estado e a pessoa em questão tivesse um cargo técnico no aparelho do mesmo Estado. Não, nem isso poderia entender. Se se é crítico contra o Estado mas se se é competente não se precisa do lugar no aparelho do Estado: a competência ganha sempre (mesmo que às vezes não pareça) no sector privado. A pergunta é esta e com ela resto o meu caso em relação ao lone ranger:
Ó mascarilha, mas porque raio de razão não assinas por baixo e sem medo as tuas considerações sobre poesia, a manteiga de amendoim e o erotismo do Casimiro de Brito? Alguma razão importante deve existir para tanto secretismo...
O meu caro(a) anónimo(a) mascarado(a) resolveu responder a este meu post. Ao contrário do efeito dos meus textos na(s) sua(s) pessoa(s) - quando não se coloca um nome é sempre uma chatice endereçar o que quer que seja a alguém - os seus textos continuam a fazer-me rir. E vão continuar, espero.
Acho muito bem que visite o PNet e que o critique com muita ferocidade. Acho é estranho haver pessoas - e não falava nele(s) ou nela(s) - que desprezam tanto um site mas vão lá mais vezes do que eu. Sobre o meu post, estamos de acordo numa coisa, pelo menos: a Faye Reagan tem aquele encanto todo pela pele muito branca e pelo cabelo muito ruivo. Comparar o meu texto do PNet a uma líndissima actriz pornográfica coloca finalmente a literatura na importância que deve ter. Obrigado. Agora, caro ou cara anónimo(a) (cansei dos esses), falar do meu texto como quem fala de manteiga de amendoim, isso não aceito. Geleia, concedo. Quando muito tulicreme. Mas manteiga de amendoim? Isso é coisa de filmes da indústria americana e eu só vejo cinema europeu. Temos de ser rigorosos, meu caro, temos de ser rigorosos.
Uma reacção aperece devido a uma acção. Coisa muito evidente, mas que parece ser muito pouco percebida por algumas pessoas que escrevem em blogues. Quero com isto dizer o seguinte: 1) É muito cómodo ficar em casa sem fazer nenhum - é a maneira mais fácil de se ser inócuo. 2) Adoro quando tenho razão e aquilo de que estava à espera acontece (aqui e aqui, por exemplo) - escrever sobre o surrealismo, mesmo que alguns considerem que o que escrevi são patetices (e estão no seu mais do que legítimo direito) dá sempre lugar a reacções muito fortes, vá-se lá saber porquê. Não esperava outra coisa da crónica deste mês do PnetQueNinguémLêMasQueTantaGenteComenta. 3) Gosto muito de ler o Máscara & Chicote e não fazia ideia que o Insónia ainda existia. Só tenho pena, para que pudesse desprezar acertadamente cada um deles, que não seja um anónimo a escrever o agora intitulado Antologia do Esquecimento. Assim era mais fácil continuar a rir-me ("com muitos dentes brancos à mostra") com a qualidade dos textos do anónimo sabendo que tinha a coragem de, como o Henrique Bento Fialho, assumir as suas posições sem medo que o mundo ainda lhe caísse em cima como parece cair em cima de alguns.
Agora, como estou à espera (dei-lhes demasiada importância, eu sei), podem vir mais balas. É que para mim, meus caros, isto é só literatura, não é a Segunda Guerra Mundial. Talvez fosse boa ideia perceber a importância relativa de algumas coisas. Mas enfim, cada um é como cada qual. E cada um dá a importância que acha que deve dar às acções de uma pessoa de nome Jorge Reis-Sá que edita e escreve livros. No que lhe diz respeito, e digo-o porque o conheço, informo-vos que lhe agrada a ideia de tanto fel por razões que se prendem com a sua existência. Lamento: tentará continuar a existir - dá-lhe jeito.
Adenda: não tinha lido ainda a "declaração de perigo para a saúde pública" que qualquer contacto comigo pode causar e que o Manuel A. Domingos escreveu há dois anos. Achei-lhe muita graça.
Diz o Público: "França enfrenta ameaça terrorista real". Querem ver que o filme Wag the Dog só agora chegou aos cinemas franceses?
Quando uma pessoa sabe mesmo - mas mesmo a sério - dirigir uma equipa de colaboradores, não tem medo de desafios como o que Madaíl, intelegentíssimo, colocou a Mourinho. Mais: com a forma de trabalhar de José Mourinho, tendo como tem pessoas em quem confia completamente e que neste momento certamente não trabalham com ele (as equipas técnicas só podem ter um número finito de gente; não esquecer que o observador dele até há coisa de ano é o treinador principal do Porto), eu voto na seguinte proposta: se Mourinho ganhar os dois jogos (como irá acontecer), ele que dirija a selecção a partir de Madrid, com um colaborador por ele escolhido a fazer o trabalho de sapa. E nós quase sem querermos ainda somos campeões da Europa. E ele o único técnico a ganhar não sei quantas coisas não sei onde e tudo com menos de 50 anos. Sorte a nossa. Como já disse noutro email: isto é tudo por um feliz acaso. E este pode ser o caso.
Acabo de ler em rodapé na Sic Notícias: "vítimas de ataque de tubarões pedem à ONU para conservar a espécie". Como não me parece - embora fosse bem mais racional e aceitável - que estejam a pedir para que a ONU conserve a espécie humana, fustigada pelos ataques de tubarões (devem ser tantas as pessoas a sofrerem esses ataques como aquelas que atravessam o Sahara a pé), só me resta concluir que um grupo de estúpidos pede que salvem a espécie que, basicamente, os queria comer. Somos tão à frente que ultrapassamos tudo: mesquitas à beira de cemitérios provocados por fiéis de mesquitas, a defesa do Benfica e a dor de uma dentada de tubarão. Que lindo! Estou mesmo comovido. Claro que explicação está neste mesmo texto: como foram três os atacados o ano passado, dois deles resolveram ir a Nova Iorque de férias e no caminho, já bebidos, deixar um recado na recepcionista da ONU. Sou só eu ou isto anda mesmo tudo louco?
Eu também tenho algo a acrescentar à polémica entre Edite Estrela e o senhor Presidente. Lembremos que ela mandou uma carta, que ele disse que era educado, que ela retorquiu que só estava a discordar do homem (e, presumo, da sua boa educação). De seguida, a foto da altura em que Edite discursava e discordava nas televisões.
Agora sim, o meu acrescento:
Edite Estrela, seja lá bem educada para os nossos olhos e troque de óculos de sol (fuzilando, pelo caminho, quem lhe disse que ficavam bem na altura da compra). Não vê que com essa ligação artifical entre as arcadas supraciliares fica muito parecida com este senhora?
Não tenho qualquer opinião sobre o atraso na entrega do acordão. Já as há aos montes. Mas tenho um conselho: Times New Roman, tamanho 12, espaçamento duplo. Desde o começo. Assim não há problema nenhum para juntar as peças.
Falei aqui de uma errata. Pois bem, como disse não sei quem: como o botão da flor, adiantei-me à verdade. E a verdade é mentira. Oh homem de pouca fé! Mas o João Pombeiro anda a brincar, não? Gralha, que gralha? Zero, nenhuma, nicles. Tudo certinho. Como só hoje vi a revista, só hoje descobri. Marabilha! Esqueçam a minha incompetência e centrem-se na competência da equipa que faz a LER.
Sou do tempo em que andávamos aos caídos. Em que a equipe de todos nós era nitidamente a segunda melhor equipa da CPLP. Em que estar num grupo como a Dinamarca era sinal de que a qualificação seria uma sorte e que para ir ao play-off tínhamos de ter muito cuidado com a Noruega, Islândia, Chipre. Muito mesmo. Por isso, o que aconteceu hoje não me deixa triste - até me deixa contente. É o "ó tempo volta para trás" que tantos portugueses gostam. É nós voltarmos a ser devidamente proporcionais com o rectângulo pequenino em vez de sermos com o melhor treinador do mundo e um dos melhores jogadores do mundo.
Mas notem: Queiroz veio e acabou. Pode parecer estranho dizer isto depois do post anterior, mas eis que Marcelo até disse uma coisa com que concordo: o grande drama foi os Sub-21 não conseguirem a qualificação. Já temos selecções jovens, mas não passam da cepa torta. Mas porque acabou? Não só por isso: porque Simão, Paulo Ferreira e Deco foram embora e não foi por causa da idade - foi porque não estavam para aturar "certas e determinadas situações". Ficamos com quê? Com um treinador adjunto que não percebe nada de futebol (falou na entrega, em vez de tentar mudar alguma coisa, tipo, fazendo substituições... dois pivots defensivos está bem visto, assim só perdemos por um); sem meio campo; com um ataque à antiga, chuveirinho para o nosso "pinheiro"; e até com um guarda-redes que era tão seguro mas que agora também treme como varas verdes.
Problema: Queiroz não se pode demitir. Esse tempo já passou. A demissão pela federação será vista como penalização pelos resultados, feita a partir da ADOP é certo, à má fila. Enfim, uma tristeza. Mas fico contente: faz-me lembrar que o sucesso em Portugal é um acaso, feito por algumas pessoas que por acaso nasceram em Portugal. Organização? Competência colectiva? Pensamento a médio ou longo prazo? Só quando por acaso há alguns que estão nos lugar certos na hora certa (Queiroz em 89 e 91; Mourinho em 2003-2004; Scolari em 2004-2006).
Na crónica deste mês da LER há um erro de facto pelo qual tenho de pedir desculpa. Às vezes temos tanto a certeza de uma coisa que lemos há muito tempo que achámos que a nossa memória não nos trairá. Traiu: David Mourão-Ferreira não foi director do IPLB ou da DGLB, antes director do Serviço de Bibliotecas Fixas e Itinerantes da Gulbekian, director da Colóquio-Letras e por três vezes Secretário de Estado da Cultura. Nada muda no que diz respeito ao texto, já que basta trocar o erro por um destes cargos para que tudo continue com sentido. Mas está errado, e por esse erro peço desculpa aos leitores da LER.
O José Mourinho, que, como se sabe, não é muito competente, diz que num treino dele quando se chega aos quatro na peladinha estão todos a jogar hóquei em patins pelo que segue tudo para o balneário. Ontem, vimos hóquei e gostámos muito. Portugal parecia que jogava em WM, brincas na areia com a certeza que Deus Nosso Senhor estaria no seu lugar a colocar no lugar certo o resultado mais evidente - a vitória. Bem, correu mal. Porquê? Porque isto anda tudo louco: Sílvio no banco porque o Miguel tem um nome com peso na camisola; João Moutinho no banco porque Raúl Meireles já fez jogos que cheguem esta temporado (fez um, ontem - o seu primeiro); Danny a construir jogo porque o Tiago já demonstrou que não vale nenhum (basta ter visto o Mundial); Manuel Fernandes a trinco - pouco pesado, como se nota - porque com Pepe e Pedro Mendes lesionados não há mais ninguém para número 6; Quaresma - que fez um jogo fantástico como se previa, depois das exibições que tem feito na Turquia - a única sorte e por causa do azar de CR7. Como Ruben Amorim: de desnecessário para titular.
Foi bonita a festa, pá! E a selecção está muito com o povo. É que são quase tantos os convocados como os que estão na bancada, o que dá para melhores conversas do que quando são muitos milhares a ver um jogo - isso sempre torna tudo bem mais impessoal.
Gostei muito da atitude francesa, que fui acompanhando à distância. Acho que o nojo é tanto, que me pareceu prudente não chegar perto e querer saber mais. Não escrevo num jornal, não sou opinion maker - tenho um blogue. Posso, por isso, e de vez em quando, dar-me ao luxo da distância, acho. Claro que neste caso a distância é motivada por dois tipos de nojos: o intelectual e o carnal. Nojo pela atitude, fascista como normalmente se entende em Portugal o termo (mais uma generalização); nojo pelo cheiro dos ciganos, claro. Ou não é assim que tudo começa, com generalizações? Daqui a pouco voltamos ao tempo da raças humanas, coisa linda e muito a tempo de ser lembrada.
E acreditem que sei do que falo, que vivi 17 anos a 300 metros de um acampamento perpétuo. Infelizmente, as condições sanitárias nunca foram as melhores, concedo. E os ciganos eram ciganos como normalmente pensamos neles: ford transit com um bm de há vinte anos, lado a lado; calças rasgadas com um cinto à Chuck Norris; cabelos com gel e caídos sobre os ombros, claro. Tenho 33 anos: vão mudar-se para uma habitação social (mal desenhada, diga-se) que a Câmara construiu, num terreno abandonado que esteve abandonado desde sempre, ali a 200 metros. Mas importante dizer que em 17 anos de vizinhança, o mais que sabia era se abriam ou não a porta naquele ano à cruz, pela Páscoa. Problemas? Nenhuns. Convivência? A necessária pela distância, curta. Mas seria isso, porque nós somos portugueses, pelos vistos, e eles que lá estavam já antes de eu nascer, são de ascendência romena, motivo para deportação? Segundo Sarkozy, sim. É o cheiro que a isso obriga: a França tem de cheirar a rosas, como seria de esperar.
Não, senhores, não. Os ciganos não cheiram mal. Nós é que cheiramos mal da cabeça quando fazemos generalizações obtusas, quando não percebemos que é gente, que somos nós ali - só nos falta o cinto, que as calças, os carros e o gel (com cabelo pelos ombros) também os usámos.
Livre circulação de pessoas, diz a União Europeia. Sarkozy fez bem: é enviá-los com um círculo de notas de 300 euros por cabeça (100 por criança, para dizer que não explora também os mais novos) para a Roménia. Livre circulação? Só se for a do Danúbio. Porque a ideia de Europa foi devidamente enterrada quando se retirou da equação "pessoas". Melhor, como afinal parecia o propósito da CEE - Comunidade Económica (notem) Europeia - no início, ser só livre circulação de bens. Então se forem daqueles que se transacionam só virtualmente, tanto melhor. As pessoas que se deixem ficar cada um no seu país, que os franceses só quiseram saber da Europa quando a Europa lhes entrou pelo país adentro (1939, para os esquecidos).
É mandá-los foder. Aos franceses? Não, que eles não têm assim tanta culpa: aos políticos que resolveram terminar com um sonho que nunca pareceu possível. E, escritor, cabe-me dizer que a língua tem muito a ver com isso - é essa a maior coisa que diferencia os Estados Unidos da América destes Estados Unidos da Europa. Que já eram.
Está aqui. Não a Humanidade, mas uma entrevista por Soraia Martins para uma interessantíssima revista online - a Magnética. Página 36, logo a seguir à entrevista de Raquel Ochoa.
Um bocadinho, talvez aquele em que mais tenha acertado: Se me perguntarem "queres escrever um livro que vai mudar a História da Humanidade ou queres criar um filho e mudar a vida dele?" escolho a segunda hipótese.